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Eclipse

ÍNDICE
1. ULTIMATO ............................................................................................................................ 4
2. FUGA ................................................................................................................................... 19
3. MOTIVOS ............................................................................................................................ 32
4. NATUREZA .......................................................................................................................... 43
5. IMPRESSÃO ........................................................................................................................ 52
6. SUÍÇA ................................................................................................................................. 60
7. FINAL INFELIZ ................................................................................................................... 69
8. ... ......................................................................................................................................... 76
9. ALVO ................................................................................................................................... 88
10. CHEIRO ............................................................................................................................. 96
11. LENDAS ........................................................................................................................... 107
12. TEMPO ............................................................................................................................. 118
13. RECÉM-NASCIDO ........................................................................................................... 127
14. DECLARAÇÃO ................................................................................................................. 136
15. APOSTA ........................................................................................................................... 144
16. ÉPOCA ............................................................................................................................. 152
17. ALIANÇA .......................................................................................................................... 160
18. INSTRUÇÕES .................................................................................................................. 168
19. EGOÍSTA ......................................................................................................................... 180
20. COMPROMISSO .............................................................................................................. 191
21. RASTROS ........................................................................................................................ 203
22. FOGO E GELO ................................................................................................................ 215
23. MONSTRO ....................................................................................................................... 223
24. DECISÃO REPENTINA ................................................................................................... 234
25. ESPELHO ......................................................................................................................... 244
26. ÉTICA .............................................................................................................................. 255
27. NECESSIDADES .............................................................................................................. 266
EPÍLOGO: ESCOLHA ............................................................................................................ 273
PREFÁCIO
Todos os nossos esforços no subterfúgio tinham sido em vão.
Com gelo em meu coração, eu o assisti preparar-se para me defender. Sua intensa
concentração não traía sinais de dúvida, apesar de ele estar em maior número.
Eu sabia que nós não podíamos esperar por ajuda - nesse momento, a família dele estava
lutando por sua vida tanto quanto certamente ele estava pelas nossas.
Eu alguma vez descobriria o resultado daquela outra luta? Descobriria quem foram os
vencedores e os perdedores? Eu viveria o bastante para isso?
As probabilidades disso não pareciam muito grandes.
Olhos negros, loucos com sua ânsia feroz pela minha morte, vista no momento em que a
atenção do meu protetor se desviasse. O momento em que eu certamente morreria.
Em algum lugar longe, longe na floresta fria, um lobo uivou.
1. ULTIMATO
Bella,
Eu não sei por que você está fazendo Charlie passar bilhetinhos pra Billy como se
estivéssemos na 2ª série - se eu quisesse falar com você eu teria respondido o
Foi você quem fez a escolha aqui, Ok?
Você não pode ter as duas coisas quando
Que parte de 'inimigos mortal' você não
Olha, eu sei que eu estou sendo um idiota, mas não existe outra forma de
Nós não podemos ser amigos enquanto você está passando o seu tempo com um bando de
Pensar de mais em você só deixa as coisas piores, então não escreva mais
É, eu sinto a sua falta também. Muito. Isso não muda nada.
Desculpe,
Jacob.
Eu passei os meus dedos pela página, sentindo as marcas onde ele havia pressionado a
caneta no papel com tanta força que ele quase rasgou. Eu podia imaginá-lo escrevendo isso -
desenhando as letras raivosas com a sua escrita áspera, riscando linha após linha quando as
palavras saíam erradas, talvez até fazendo a caneta quebrar em sua mão grande demais; isso
explicaria as manchas de tinta.
Eu podia imaginar a frustração fazendo as sobrancelhas dele se apertarem e enrugando a
sua testa. Se eu estivesse lá, eu teria sorrido. Não tenha uma hemorragia cerebral, Jacob, eu teria
dito a ele. Bota tudo pra fora logo.
Rir era a última coisa que eu tinha vontade de fazer enquanto relia as palavras que eu quase
já tinha memorizado. A resposta dele ao meu bilhete de alegações - passado de Charlie pra Billy
pra ele, exatamente como na segunda série, como ele apontou - não era surpresa. Eu já sabia a
essência do que ele ia dizer antes de abri-lo.
O que mais me surpreendia era o quanto aquelas linhas rabiscadas haviam me machucado -
como se a ponta das letras tivessem superfícies cortantes. Mais do que isso, por trás de cada
palavra raivosa se escondia uma piscina de dor; a dor de Jacob me cortou mais profundamente do
que a minha própria.
Enquanto eu estava pensando nisso, eu senti o cheiro inconfundível de alguma coisa
queimando na cozinha.
Em outra casa, o fato de que alguém que não fosse eu estava cozinhando não causaria
muito pânico.
Eu enfiei o papel amassado no meu bolso de trás e saí correndo. Eu cheguei ao fim das
escadas quase sem tempo. O recipiente de molho de espaguete que Charlie tinha enfiado no
microondas estava apenas no início da revolução quando eu abri a porta e o tirei de lá.
- O que eu fiz de errado? - Charlie quis saber.
- Você tinha que ter tirado a tampa antes, pai. Metal não é bom em microondas.
Eu rapidamente removi a tampa enquanto falava, derramei metade do molho em uma tigela,
depois coloquei a tigela de volta no microondas e guardei o resto de volta no congelador; eu
arrumei o tempo e apertei o botão start.
Charlie observou os meus arranjos com os lábios torcidos.
- Eu fiz o macarrão direito?
Eu olhei para a panela no fogão, a fonte do cheiro que havia me alertado.
- Mexer ajuda - eu disse à meia voz. Eu encontrei uma colher e tentei desgrudar a massa
que estava pegada no fundo.
Charlie suspirou.
- Então, pra que é tudo isso? - eu perguntei a ele.
Ele cruzou os braços no peito e olhou, pela janela dos fundos, para a chuva caindo.
- Eu não sei do que você está falando - ele rosnou.
Eu estava confusa. Charlie cozinhando? Qual era o motivo da sua atitude ranzinza?
Edward ainda não estava aqui; geralmente Charlie guardava esse tipo de atitude para o meu
namorado, fazendo o melhor que podia para ilustrar o tema "mal vindo" com palavras e postura.
Os esforços de Charlie eram desnecessários - Edward já sabia exatamente o que o meu pai estava
pensando sem esse show.
A palavra "namorado" me fez mordiscar a minha bochecha pelo lado interior com uma
tensão familiar enquanto eu me movia. Não era a palavra certa, nem um pouco. Eu precisava de
uma palavra mais expressiva pra comprometimento eterno... Mas palavras como destino e fado
pareciam estranhas quando você as usava numa conversa convencional.
Edward tinha outra palavra em mente, e essa palavra era a fonte da tensão que eu sentia.
Os meus dentes se apertavam só de pensar na palavra.
Noiva. Ugh. Eu me afastei do pensamento.
- Eu perdi alguma coisa? Desde quando você faz o jantar? - eu perguntei a Charlie. A massa
grudenta boiava na água borbulhante enquanto eu a cutucava. - Ou será que eu devo dizer ‘tenta’
fazer o jantar?
Charlie levantou os ombros.
- Não há nenhuma lei que diga que eu não posso cozinhar em minha própria casa.
- É você quem sabe - eu respondi sorrindo, enquanto olhava para o distintivo no seu casaco
de couro.
- Ha. Essa foi boa. - Ele tirou a jaqueta como se o meu olhar tivesse feito ele se lembrar que
ainda estava usando o casaco e pendurou-o no gancho reservado para o seu cinto. Seu cinto de
armas já estava pendurado no lugar - ele não tinha a necessidade de usá-lo para ir à delegacia por
algumas semanas. Não houve mais desaparecimentos perturbadores pra atrapalhar a pequena
cidade de Forks, em Washington, nada de visões de lobos gigantescos, misteriosos, nas florestas
chuvosas...
Eu cutucava o macarrão em silêncio, imaginando que Charlie falaria sobre o que quer que
estivesse incomodando-o quando ele achasse que estava na hora. Meu pai não era um homem de
muitas palavras, e o esforço desastroso de orquestrar um jantar feito por ele deixou muito claro
que ele estava com um número estranho de palavras em sua cabeça.
Eu olhei pra o relógio rotineiramente - uma coisa que eu fazia todos os dias nessa hora.
Agora faltava menos de meia hora. As tardes eram a parte mais difícil do meu dia. Desde que o
meu ex melhor amigo (e lobisomem), Jacob Black, me dedurou sobre a moto que eu andava
guiando - um castigo que ele havia arquitetado pra que eu não pudesse passar tempo com o meu
namorado (e vampiro), Edward Cullen - Edward só tem permissão de me ver até as nove e meia
da noite, sempre nos confins da minha casa e sob a supervisão do olhar infalivelmente malhumorado
do meu pai.
Essa era só uma pequena parcela do castigo anterior que eu recebi por ter desaparecido três
dias sem explicar e pelo episódio do mergulho do penhasco.
É claro, eu ainda via Edward na escola, porque ainda não havia nada que Charlie pudesse
fazer em relação a isso. E depois, Edward passava quase todas as noites no meu quarto também,
mas Charlie não estava precisamente consciente disso. A habilidade de Edward de escalar rápida e
silenciosamente a minha janela no segundo andar era quase tão útil quanto a habilidade dele de
ler a mente de Charlie.
Apesar de as tardes serem a única hora que eu passava longe de Edward, isso já era o
suficiente pra me deixar impaciente, e as horas sempre se arrastavam. Mesmo assim, eu
agüentava o meu castigo sem reclamar porque - pra começar - eu sabia que tinha merecido, e -
pra terminar - porque eu sabia que não podia machucar o meu pai me mudando agora, quando
uma separação muito mais permanente se aproximava, invisível pra Charlie, perto no horizonte.
Meu pai se sentou na mesa com um jornal desdobrado e amassado que havia lá; dentro de
segundos ele já estava estalando a língua de desaprovação.
- Eu não sei pra quê você lê o jornal, pai. Ele só te tira do sério.
Ele me ignorou, rosnando para o papel em suas mãos.
- É por isso que todo mundo quer viver em cidades pequenas. Ridículo!
- O que foi que as cidades grandes fizeram de errado agora?
- Seattle está entrando para a lista das cidades com mais crimes do país. Cinco homicídios
sem solução nas últimas duas semanas. Você pode imaginar viver assim?
- Na verdade, eu acho que Phoenix está mais no topo da lista, pai. Eu vivi assim.
Eu nunca havia chegado perto de ser uma vítima de assassinato antes de vir pra essa
pequena cidade segura. Na verdade, eu ainda estava em muitas das listas de perigo... A colher
balançou nas minhas mãos, fazendo a água tremer.
- Bem, você não me pagaria o suficiente - Charlie disse.
Eu desisti de salvar o jantar e me sentei pra servi-lo; eu tive que usar uma faca de carne pra
cortar uma porção do espaguete pra mim e pra Charlie, enquanto ele observava com uma
expressão tímida. Charlie cobriu o seu com molho pra ajudar e começou a escavar. Eu disfarcei o
meu com o molho da melhor forma que pude e segui o exemplo dele, sem muito entusiasmo. Nós
comemos em silêncio por algum tempo. Charlie ainda estava vasculhando as notícias, então eu
peguei a minha cópia muito abusada de O morro dos ventos uivantes de onde eu havia deixado-a
no café da manhã e tentei me perder na Inglaterra da virada do século, enquanto eu esperava que
ele começasse a falar.
Eu estava exatamente na parte do retorno de Heathcliff quando Charlie limpou a garganta e
jogou o jornal no chão.
- Você está certa - Charlie disse. - Eu tenho uma razão pra ter feito isso. - Ele acenou com o
garfo na direção da mistura grudenta. - Eu queria falar com você.
Eu coloquei o livro de lado; a encadernação estava tão destruída que ela ficou plana na
mesa.
- Você podia ter só pedido.
Ele balançou a cabeça, as sobrancelhas juntas.
- É. Eu vou lembrar disso da próxima vez. Eu pensei que te livrar de fazer o jantar ia te
amaciar.
Eu ri.
- Deu certo, seus talentos culinários me deixaram molinha feito marshmallow. Do que você
precisa, pai?
- É sobre Jacob.
Eu senti meu rosto endurecer.
- O que tem ele? - eu perguntei através dos lábios rígidos.
- Calma, Bells. Eu sei que você ainda está brava porque ele te dedurou, mas foi a coisa
certa. Ele estava sendo responsável.
- Responsável - eu repeti agudamente, rolando os meus olhos. - Certo. Então, o que tem
Jacob?
A pergunta sem importância repetida na minha cabeça não era nada além do trivial.
O que tem Jacob? O que eu ia fazer em relação a ele? Meu ex-melhor amigo que agora
era... o que? Meu inimigo? Eu vacilei.
O rosto de Charlie de repente estava cauteloso.
- Não fique brava comigo, ok?
- Brava?
- Bem, é sobre Edward também.
Meus olhos se estreitaram.
A voz de Charlie ficou mais áspera.
- Eu deixo ele entrar em casa, não deixo?
- Você deixa - eu admiti. - Por breves períodos de tempo. É claro, você também me deixa
sair de casa por breves períodos de vez em quando - eu continuei, só de piada, eu sabia que
ficaria presa enquanto durasse o período escolar. - Eu tenho sido muito boazinha ultimamente.
- Bem, é mais ou menos aí que eu queria chegar com isso... - E depois o rosto de Charlie se
arreganhou num sorriso inesperado; por um segundo ele pareceu ser vinte anos mais jovem.
Eu vi o fraco brilho de uma possibilidade naquele sorriso, mas eu prossegui lentamente.
- Eu estou confusa, pai. Nós estamos falando sobre Jacob, Edward ou sobre o meu castigo?
O sorriso dele brilhou de novo.
- Um pouco dos três.
- E como eles se relacionam? - eu perguntei, cuidadosa.
- Tudo bem - ele suspirou, erguendo as mãos como se estivesse se rendendo. - Então eu
acho que talvez você mereça uma condicional por bom comportamento. Para uma adolescente,
você é incrivelmente não-reclamona.
Minha voz e minhas sobrancelhas levantaram.
- Sério? Eu estou livre?
De onde foi que isso veio? Eu pensei que fosse ficar trancada em casa até me mudar de
fato, e Edward não havia registrado nenhuma mudança nos pensamentos de Charlie...
Charlie levantou um dedo.
- Condicionalmente.
O entusiasmo desapareceu.
- Fantástico - eu gemi.
- Bella, isso é mais um pedido do que uma ordem, ok? Você está livre. Mas eu espero que
você use essa liberdade mais... judicialmente.
- O que isso significa?
Ele suspirou de novo.
- Eu sei que você fica satisfeita passando todo o seu tempo com Edward...
- Eu passo tempo com Alice também - eu interferi. A irmã de Edward não tinha horários para
visita; ela ia e vinha quando bem entendia. Charlie era como pudim nas mãos capazes dela.
- Isso é verdade - ele disse. - Mas você tem outros amigos além dos Cullen, Bella. Ou
costumava ter.
Nós encaramos um ao outro por um momento.
- Quando foi a última vez que você falou com Angela Weber? - ele jogou pra mim.
- Sexta no almoço - eu respondi imediatamente.
Antes da volta de Edward, os meus amigos da escola haviam se polarizado em dois grupos.
Eu gostava de pensar neles como grupos de bem vs. mau. Nós e eles funcionava também. Os
mocinhos eram Angela, seu namorado Ben Cheney e Mike Newton; esses três haviam muito
generosamente me perdoado quando eu enlouqueci porque Edward foi embora. Lauren Mallory
era a líder do lado deles, e quase todo mundo, incluindo minha primeira amiga em Forks, Jessica
Stanley, parecia seguir a agenda Anti-Bella dela contentemente.
Com Edward de volta a escola, a linha de divisão havia ficado ainda mais distinta. O retorno
de Edward havia cobrado um certo pedágio a Mike, mas Angela era inquestionavelmente leal, e
Ben a seguia. A despeito da aversão natural que a maioria dos humanos sentia pelos Cullen,
Angela sentava-se obrigatoriamente ao lado de Alice todos os dias no almoço. Depois de alguns
dias, Angela até começou a parecer confortável lá. Era difícil não se encantar pelos Cullen -
quando você dava a um deles a chance de ser encantador.
- Fora da escola? - Charlie perguntou, chamando minha atenção de volta.
- Eu não tenho visto ninguém fora da escola, pai. De castigo, lembra? E Angela tem um
namorado também. Ela está sempre com Ben. Se eu realmente estou livre - eu adicionei, pegando
pesado no ceticismo - talvez possamos sair em casais.
- Tudo bem, mas então... - ele hesitou. - Você e Jake costumavam fazer tudo juntos, e
agora...
Eu cortei ele.
- Dá pra você chegar no ponto, pai? Qual é a sua condição, exatamente?
- Eu não acho que você deveria abandonar os seus amigos pelo seu namorado, Bella - ele
disse numa voz dura. - Não é legal, e eu acho que a sua vida estaria mais bem balanceada se
houvessem mais algumas pessoas nela. O que aconteceu Setembro passado... - Eu vacilei. – Bem
- ele disse defensivamente. - Se você tivesse uma vida além de Edward Cullen, as coisas podiam
não ter sido daquele jeito.
- Teria sido exatamente daquele jeito - eu murmurei.
- Talvez sim, talvez não.
- O ponto? - eu lembrei ele.
- Use a sua liberdade pra ver os seus outros amigos também. Equilibre as coisas.
Eu balancei a cabeça lentamente.
- Equilíbrio é bom. No entanto, eu tenho cotas de tempo pra seguir?
Ele fez uma cara, mas balançou a cabeça.
- Eu não quero complicar as coisas. Só não esqueça os seus amigos, particularmente Jacob.
Eu levei algum tempo pra encontrar as palavras certas.
- Jacob pode ser... difícil.
- Os Black são praticamente da família, Bella - ele disse, dura e paternalmente de novo. - E
Jacob foi um amigo muito, muito bom pra você.
- Eu sei disso.
- Você não sente nem um pouco de saudades dele? - Charlie perguntou, frustrado.
Minha garganta pareceu inchar de repente; eu tive que limpá-la duas vezes antes de
responder.
- Sim, eu sinto saudades dele - eu admiti, ainda olhando pra baixo. - Eu sinto muita falta
dele.
- Então por que é tão difícil?
Isso não era uma coisa que eu tinha liberdade de explicar. Era contra as regras para as
pessoas normais - pessoas humanas como eu e Charlie - saber sobre o mundo clandestino, cheio
de mitos e monstros, que existia secretamente ao nosso redor. Eu sabia sobre esse mundo - e eu
tinha uma pequena porção de problemas como resultado. Eu não ia envolver Charlie nos mesmos
problemas.
- Com Jacob existe um... conflito - eu disse solenemente. - Eu quero dizer, um conflito sobre
a coisa da amizade. Amizade não parece ser o suficiente pra Jake.
Eu inventei a minha desculpa baseada em fatos que eram verdadeiros, mas insignificantes,
dificilmente tão cruciais se comparados com o fato de que o bando de lobisomens de Jake odiava
amargamente a família vampira de Edward – e, portanto, eu também, já que eu estava
inteiramente intencionada a me juntar a essa família. Não era uma coisa que eu podia resolver
com ele através de um bilhete, e ele não atendia os meus telefonemas.
Mas o meu plano de ir lidar pessoalmente com o lobisomem definitivamente não havia
calhado bem com os vampiros.
- Será que Edward não está a fim de um pouco de competição saudável? - a voz de Charlie
estava sarcástica agora.
Eu olhei pra ele com um olhar obscuro.
- Não tem competição.
- Você está machucando os sentimentos de Jake evitando-o desse jeito. Ele iria preferir ser
seu amigo do que nada.
Oh, agora era eu que o estava evitando?
- Eu tenho certeza absoluta que Jake não quer amizade de jeito nenhum. - As palavras
queimaram na minha boca. - Afinal, de onde foi que você tirou essa idéia?
Agora Charlie parecia envergonhado.
- O assunto pode ter aparecido hoje com Billy...
- Você e Billy fofocam como mulheres velhas - eu reclamei, espetando o meu garfo
violentamente no espaguete congelado no meu prato.
- Billy está preocupado com Jacob - Charlie disse. - Jake está passando por um momento
difícil agora... Ele está deprimido.
Eu gemi, mas mantive os meus olhos na gororoba.
- E, além do mais, você ficava tão feliz depois de passar o dia com Jake - Charlie suspirou.
- Eu estou feliz agora - eu rosnei ferozmente por entre os dentes.
O contraste entre as minhas palavras e o tom que eu usei quebrou a tensão.
Charlie começou a rir, e eu me juntei a ele.
- Ok, ok - eu concordei. - Equilíbrio.
- E Jacob - ele insistiu.
- Eu vou tentar.
- Bom. Encontre esse equilíbrio, Bella. E, oh, é, você tem correspondência - Charlie disse,
fechando o assunto sem muitas dificuldades. - Está no balcão.
Eu não me movi, meus pensamentos se moviam como espirais ao redor do nome de Jacob.
Provavelmente era só correspondência boba; eu havia acabado de receber um pacote da minha
mãe e não estava esperando mais nada.
Charlie empurrou a sua cadeira pra trás e se espreguiçou enquanto ficava de pé. Ele levou
seu prato para a pia, mas antes de ligar a água pra lavá-lo, ele pausou e jogou um envelope
grosso pra cima de mim. A carta escorregou pela mesa e deu um choque no meu cotovelo.
- Er, obrigada - eu murmurei, confusa pela insistência dele. Aí eu vi o endereço do
remetente, a carta era da universidade do Sudeste do Alaska. - Isso foi rápido. Eu pensei que
havia perdido o prazo de entrega dessa também.
Charlie gargalhou.
Eu virei o envelope e olhei pra ele.
- Está aberto.
- Eu estava curioso.
- Eu estou chocada, xerife. Isso é um crime federal.
- Oh, leia logo.
Eu puxei a carta pra fora e encontrei uma agenda dobrada dos cursos.
- Parabéns - ele disse antes que eu pudesse ler alguma coisa. - Sua primeira aceitação.
- Obrigada, pai.
- Nós deveríamos falar sobre o custeamento. Eu tenho algum dinheiro economizado...
- Ei, ei, nada disso. Eu não vou tocar na sua aposentadoria, pai. Eu tenho os meus fundos
para a faculdade. - O que restava dele, que já não era muito no começo.
Charlie fez uma carranca.
- Alguns desses lugares são muito caros, Bella. Eu quero ajudar. Você não tem que ir para o
Alaska só porque é mais barato.
Não era mais barato, nem um pouco. Mas era longe, e Juneau tinha um normal de trezentos
e vinte e um dias nublados por ano. O primeiro era o meu pré-requisito, o segundo era o de
Edward.
- Eu já tenho tudo coberto. Além do mais, tem um monte de auxílios financeiros por aí. É
fácil ganhar empréstimos. - Eu esperava que o meu blefe não fosse óbvio demais. Eu não tinha
feito muitas pesquisas sobre o assunto.
- Então... - Charlie começou, e então ele contorceu os lábios e desviou o olhar.
- Então o que?
- Nada. Eu só estava... - Ele fez uma carranca. - Só me perguntando quais... quais são os
planos de Edward para o ano que vem.
- Oh.
- Então?
As três batidas rápidas na porta me salvaram. Charlie revirou os olhos enquanto eu pulava
pra ficar de pé.
- Já vou! - eu gritei enquanto Charlie murmurava alguma coisa parecida com - Vá embora. -
Eu o ignorei e segui em frente pra deixar Edward entrar.
Eu tirei a porta do caminho - ridiculamente ansiosa - e lá estava ele, o meu milagre pessoal.
O tempo não me fez imune à perfeição do rosto dele, e eu tinha certeza de que nunca iria
me acostumar com nenhum dos aspectos dele. Meus olhos observaram suas feições pálidas: sua
dura mandíbula quadrada, a curva mais suave dos seus lábios cheios - que agora estavam
curvados pra cima num sorriso, a linha reta do nariz dele, o ângulo das maçãs do rosto dele, a
envergadura da sua testa macia de mármore - parcialmente obscurecida por uma mecha de
cabelos cor de bronze escurecidos pela chuva...
Eu deixei seus olhos por último, sabendo que quando eu olhasse dentro deles haveria uma
grande possibilidade de eu perder a linha de raciocínio. Eles estavam grandes, quentes com um
dourado derretido, e moldados por uma linha de cílios grossos. Olhar dentro dos olhos dele
sempre faziam eu me sentir extraordinária - como se os meus ossos estivessem como esponja. Eu
também ficava com a cabeça meio leve, mas isso podia ser porque eu esquecia de respirar. De
novo.
Era o rosto pelo qual qualquer modelo daria a sua alma pra ter. É claro, esse podia ser
exatamente o preço pedido: uma alma.
Não. Eu não acreditava nisso. Eu me sentia culpada só de pensar nisso, e eu estava feliz -
assim como estava frequentemente feliz - por ser a única pessoa cujos pensamentos eram um
mistério pra Edward.
Eu inclinei minha mão e suspirei quando os dedos frios dele encontraram os meus. O toque
dele trouxe a sensação mais estranha de alívio - como se eu estivesse sentindo dor e essa dor
houvesse cessado de repente.
- Oi - eu sorri um pouco com a minha saudação anti-climática.
Ele ergueu as nossas mãos entrelaçadas pra tocar a minha bochecha com as costas da mão
dele.
- Como foi a sua tarde?
- Lenta.
- Pra mim também.
Ele puxou o meu pulso para o rosto dele, nossas mãos ainda entrelaçadas. Os olhos dele se
fecharam enquanto o nariz dele alisava a pele de lá, e ele sorriu gentilmente sem abri-los.
Aproveitando o buquê enquanto resistia ao vinho, como ele havia colocado uma vez.
Eu sabia que o cheiro do meu sangue - muito mais doce pra ele do que o cheiro do sangue
de qualquer outra pessoa, realmente como o vinho em vez de água para um alcoólatra – causava
a ele verdadeira dor pela sede que acarretava. Eu podia apenas imaginar o esforço Herculano por
trás desse simples gesto. Eu fiquei triste por ele ter que tentar tanto. Eu me confortei com o fato
de que eu não causaria mais dor a ele por muito tempo.
Nessa hora eu ouvi Charlie se aproximando, batendo os pés no caminho com o seu
desprazer de costume com a nossa visita. Edward abriu os olhos e deixou as nossas mãos caírem,
mantendo-as entrelaçadas.
- Boa noite, Charlie - Edward era sempre impecavelmente educado, apesar de Charlie não
merecer isso. Charlie grunhiu pra ele e ficou em pé onde estava, com os braços cruzados no peito.
Ele estava levando o conceito de supervisão paterna aos extremos ultimamente.
- Eu trouxe outras inscrições - Edward me disse nessa hora, levantando um bolo de papéis
envelopados. Ele estava usando um rolo de selos como se fosse um anel no seu dedo mindinho.
Eu gemi. Como é que podiam ainda haver faculdades às quais ele já não tivesse me
obrigado a me inscrever? Como é que ele continuava encontrando essas vagas em aberto? O ano
já estava muito atrasado.
Ele sorriu como se pudesse ler os meus pensamentos; eles deviam estar óbvios no meu
rosto.
- Ainda haviam prazos de inscrição em aberto. E alguns lugares a fim de fazer exceções...
Eu podia imaginar as motivações pra essas exceções. E os montes de dólares envolvidos.
Edward riu da minha expressão.
- Vamos lá? - ele perguntou, me levando em direção à mesa da cozinha.
Charlie ficou mal-humorado e seguiu atrás, apesar de ele não poder reclamar da agenda de
atividades de hoje. Ele vivia me enchendo pra tomar uma decisão sobre a faculdade todos os dias.
Eu limpei a mesa rapidamente enquanto Edward organizava uma pilha intimidante de
formulários. Quando eu movi O morro dos ventos uivantes pra cima do balcão, Edward ergueu
uma sobrancelha.
Eu sabia o que ele estava pensando, mas Charlie interrompeu antes que Edward pudesse
comentar.
- Falando em inscrições para a faculdade, Edward - Charlie disse, seu tom ainda mais solene
- ele tentava evitar se dirigir pra Edward diretamente, e, quando ele tinha que fazê-lo, isso
exacerbava o seu humor. - Bella e eu estávamos falando sobre o ano que vem. Você já decidiu
onde vai estudar?
Edward sorriu pra Charlie e a voz dele estava amigável.
- Ainda não. Eu recebi algumas cartas de aceitação, mas eu ainda estou pensando as minhas
opções.
- Onde você foi aceito? - Charlie pressionou.
- Syracuse... Harvard... Dartmouth... e eu acabei de ser aceito na faculdade do Sudeste do
Alaska hoje.
Edward virou levemente a sua cabeça pra o lado pra poder piscar pra mim. Eu prendi uma
gargalhada.
- Harvard? Dartmouth? - Charlie murmurou, incapaz de esconder a sua admiração. - Bem,
isso é muito... isso é interessante. É, mas a Universidade do Alaska... você realmente está
considerando isso quando pode ir para a Ivy League? Quer dizer, o seu pai iria querer que...
- Carlisle sempre está de acordo com qualquer escolha que eu fizer - Edward disse a ele
serenamente.
- Hmph.
- Adivinhe, Edward? - eu pedi com uma voz brilhante, entrando na brincadeira.
- O que, Bella?
Eu apontei para o grosso envelope no balcão.
- Eu acabei de receber a minha carta de aceitação da Universidade do Alaska!
- Parabéns - ele deu um sorriso largo. - Que coincidência.
Os olhos de Charlie se estreitaram e ele olhou pra frente e pra trás entre nós. - Tá bom - ele
murmurou depois de um minuto. - Eu vou assistir o jogo, Bella. Nove e meia.
- Er, pai? Lembra o que nós discutimos sobre a minha liberdade...?
Ele suspirou.
- Certo. Ok, dez e meia. Você ainda tem o toque de recolher nas noites de aula.
- Bella não está mais de castigo? - Edward perguntou. Apesar de saber que ele não estava
realmente surpreso, eu não consegui detectar nenhum sinal de falsa excitação na voz dele.
- Condicionalmente - Charlie corrigiu através dos dentes. - O que você tem com isso?
Eu fiz uma carranca para o meu pai, mas ele não viu.
- Só é bom saber - Edward disse. - Alice está louca pra arranjar uma parceira de compras, e
eu tenho certeza de que Bella adoraria ver as luzes da cidade - ele sorriu pra mim.
Mas Charlie rosnou.
- Não! - e o rosto dele ficou roxo.
- Pai! Qual é o problema?
Ele fez um esforço pra destrincar os dentes.
- Eu não quero que você vá a Seattle agora.
- Huh?
- Eu te disse sobre a história no jornal, tem alguma espécie de gangue fazendo uma
matança em Seattle e eu quero que você mantenha a distância, ok?
Eu rolei os meus olhos.
- Pai, existe uma chance maior de eu ser atingida por um raio do que eu passar um dia em
Seattle e...
- Não, está tudo bem, Charlie - Edward disse, me interrompendo. - Eu não me referia a
Seattle. Eu estava pensando em Portland, na verdade. Eu também não levaria Bella a Seattle. É
claro que não.
Eu olhei pra ele sem acreditar, mas ele estava com o jornal de Charlie nas mãos e lia a
primeira página atentamente.
Ele devia estar tentando aplacar o meu pai. A idéia de estar em perigo mesmo por causa do
mais letal dos humanos estando na companhia de Alice ou Edward era hilária.
Funcionou. Charlie olhou pra Edward por mais ou segundo, e depois levantou os ombros.
- Tudo bem. - Ele saiu na direção da sala de estar, agora com um pouco de pressa, talvez
ele não quisesse perder o início do jogo.
Eu esperei até que a TV estivesse ligada, pra que Charlie não pudesse me ouvir.
- O que - eu comecei a perguntar.
- Espere - Edward disse sem tirar os olhos do jornal. Os olhos dele continuaram focados na
primeira página enquanto ele empurrava a primeira inscrição na minha direção pela mesa. - Eu
acho que você pode reutilizar os seus ensaios nessa. As mesmas perguntas.
Charlie ainda devia estar ouvindo. Eu suspirei e comecei a responder as perguntas
repetitivas: nome, endereço, social... Depois de alguns minutos, eu olhei pra cima, mas agora
Edward estava olhando perseverantemente pela janela.
Enquanto eu baixava a minha cabeça de volta para o meu trabalho, eu percebi pela primeira
vez o nome da escola.
Eu bufei e coloquei os papeis de lado.
- Bella?
- Fala sério, Edward. Dartmouth?
Edward levantou as inscrições descartadas e as colocou gentilmente na minha frente
novamente.
- Eu pensei que você gostaria de New Hampshire - ele disse. - Há muitas coisas pra eu fazer
durante a noite, e as florestas estão convenientemente localizadas para os praticantes ávidos de
caminhadas. Bastante vida selvagem. - Ele deu o riso torto ao qual ele sabia que eu não podia
resistir.
Eu respirei profundamente pelo nariz.
- Eu deixo você pagar, se isso te deixa feliz - ele prometeu. - Se você quiser, eu posso
custear o seu interesse.
- Como se eu fosse conseguir entrar sem um enorme suborno. Ou isso foi parte do
empréstimo? Uma nova ala dos Cullen para a biblioteca? Ugh! Por que é que estamos tendo essa
discussão de novo?
- Será que dá pra você responder a inscrições, por favor, Bella? Se inscrever não vai te
machucar.
Minha mandíbula flexionou-se.
- Quer saber? Eu não acho que vai.
Eu peguei os papéis, planejando colocá-los numa pilha que coubesse direitinho na lata de
lixo, mas eles já tinham desaparecido. Eu olhei para a mesa vazia por um momento, e depois pra
Edward. Ele não parecia ter se movido, mas as inscrições provavelmente já estavam enfiadas
embaixo do casaco dele.
- O que você está fazendo? - eu quis saber.
- Eu sei assinar o seu nome melhor que você. Você já escreveu os ensaios.
- Você está indo longe demais com isso, sabe - eu sussurrei, pela chance improvável de que
Charlie não estivesse completamente compenetrado em seu jogo. - Eu não preciso me inscrever
pra nada. Eu já fui aceita no Alaska. Eu quase já posso pagar pelo primeiro mês de estudos. Ele é
um álibi tão bom quanto qualquer outro. Não há necessidade de jogar fora um bolo de dinheiro,
não importa de quem ele seja.
Um olhar de dor espremeu o rosto dele.
- Bella...
- Não comece. Eu concordo que eu tenha que passar por essas fases por Charlie, mas nós
dois sabemos que eu não estarei em condições de estudar no próximo outono. Ficar perto de
pessoas.
Meu conhecimento desses primeiros anos como vampira eram incompletos. Edward nunca
entrava nos detalhes - esse não era o assunto favorito dele -, mas eu sabia que não era nada
bonito. Auto-controle aparentemente era uma habilidade requerida. Qualquer coisa que não
estivesse ligada a escola por correspondência estava fora de questão.
- Eu pensei que o timing ainda não estivesse decidido - Edward me lembrou suavemente. -
Você pode gostar de um semestre ou dois na faculdade. Ainda existem muitas experiências
humanas que você nunca teve.
- Eu irei vivê-las depois.
- Depois elas não serão experiências humanas. Você não terá uma segunda chance para a
humanidade, Bella.
Eu suspirei.
- Você precisa ser razoável com o tempo, Edward. É muito perigoso brincar com ele.
- Não há perigo ainda - ele insistiu.
Eu encarei-o. Sem perigo? Claro. Eu só tinha uma vampira sádica me perseguindo pra vingar
a morte do parceiro dela com a minha própria morte, preferivelmente utilizando usando algum
método lento e torturante. Quem estava preocupado com Victoria? E, oh, é, os Volturi - a família
real de vampiros com o seu pequeno exército de guerreiros vampiros - que insistiam em fazer meu
coração parar de bater de uma forma ou de outra num futuro próximo, porque nenhum humano
tinha permissão de saber que eles existiam. Certo. Absolutamente nenhuma razão pra entrar em
pânico.
Mesmo com Alice continuando a observar - Edward estava se valendo das suas visões
apuradas do futuro pra nos dar um aviso -, era uma insanidade contar com a sorte.
Além do mais, eu já tinha ganhado essa discussão. A data para a minha transformação
estava tentadoramente marcada pra pouco depois da minha formatura no segundo grau, em
apenas algumas semanas.
Uma afiada pontada de enjôo perfurou meu estômago quando eu percebi o quão curto o
tempo realmente era. Claro que esta mudança era necessária - é a chave para o que eu mais
quero que tudo no mundo reunido - mas eu estava profundamente consciente de Charlie, sentado
no outro quarto desfrutando o jogo dele, só ao vivo a cada duas noites. E minha mãe, Renee,
longe na Flórida ensolarada, que ainda suplica para eu passar o verão na praia com ela e o novo
marido dela.
E Jacob, que, diferente dos meus pais, saberia exatamente o que ia acontecer comigo
quando eu desaparecesse para alguma escola distante. Se os meus pais não ficassem suspeitando
depois de muito tempo, mesmo que eu pudesse evitar visitas com desculpas sobre custos da
viagem, muito pra estudar ou doença, Jacob saberia da verdade.
Por um momento, a dor da repulsa de Jacob ultrapassou qualquer outra dor.
- Bella - Edward murmurou, o rosto dele se contorcendo quando ele leu a angústia no meu. -
Não tem pressa. Eu não vou deixar ninguém te machucar. Você pode usar de todo o tempo que
precisar.
- Eu quero me apressar - eu sussurrei, sorrindo fracamente, tentando fazer piada do
assunto. - Eu quero ser um monstro também.
Os dentes dele se trincaram; ele falou entre eles.
- Você não faz idéia do que está dizendo. - Abruptamente ele jogou o jornal amassado na
mesa entre nós. Os dedos dele bateram na linha principal na primeira página:
CRESCE O ÍNDICE DE MORTE, POLÍCIA TEME ATIVIDADE DE GANGUE
- O que isso tem a ver com alguma coisa?
- Monstros não são uma piada, Bella.
Eu olhei para a manchete de novo, e depois para a sua expressão dura.
- Um... vampiro está fazendo isso? - eu sussurrei.
Ele sorriu sem humor, sua voz estava baixa e fria.
- Você ficaria surpresa, Bella, por saber o quão frequentemente a minha espécie está
envolvida nessas horrorosas manchetes humanas. É fácil reconhecer, quando você sabe o que
procurar. A informação aqui indica que há um vampiro recém nascido em Seattle. Sedento por
sangue, selvagem, fora de controle. Do jeito que todos nós somos.
Eu deixei os meus olhos caírem para o papel de novo, evitando os olhos dele.
- Nós estivemos monitorando a situação por algumas semanas. Todos os sinais estão aí, os
desaparecimentos improváveis, os cadáveres mal dispostos, a falta de outras provas... Sim,
alguém ainda novo. E ninguém parece estar se responsabilizando pelo neófito... - ele respirou
fundo. - Bem, não é problema nosso. Nós nem prestaríamos atenção nessa situação se não fosse
tão próximo de casa. Como eu disse, isso acontece o tempo inteiro. A existência de monstros
resulta em conseqüências monstruosas.
Eu tentei não ver os nomes na página, mas eles se destacavam das outras palavras na folha
como se estivessem em negrito. As cinco pessoas cujas vidas estavam acabadas, cujas famílias
estavam de luto agora. Era diferente considerar a forma abstrata dos assassinatos lendo esses
nomes agora. Maureen Gardiner, Geoffrey Campbell, Grace Razi, Michelle O' Connell, Ronald
Albrook. Pessoas que tinham pais e filhos e amigos e bichos de estimação e empregos e
esperanças e planos e memórias e futuros...
- Não será o mesmo pra mim - eu cochichei, meio pra mim mesma. - Você não vai me deixar
ser assim. Vamos morar na Antártida.
Edward bufou, quebrando a tensão.
- Pingüins. Adorável.
Eu dei uma gargalhada tremendo e joguei o jornal pra fora da mesa pra que eu não pudesse
mais ver aqueles nomes; ele bateu na madeira com um estrondo. É claro que Edward iria
considerar as opções de caça. Ele e a sua família "vegetariana" - todos compromissados a proteger
vidas humanas - preferiam o sabor de grandes predadores pra satisfazer as necessidades de sua
dieta.
- Alaska, então, como o planejado. Só que um lugar muito mais remoto que Juneau, algum
lugar com ursos pardos.
- Melhor - ele permitiu. - Lá tem ursos polares também. Muito furiosos. E os lobos ficam
muito grandes.
Minha boca se abriu e a respiração saiu numa contração afiada.
- Qual é o problema? - ele perguntou. Antes que eu pudesse me recuperar, a confusão
desapareceu do rosto dele e o corpo inteiro dele pareceu ficar duro. - Oh. Esqueça dos lobos
então, se a idéia te ofende - a voz dele estava dura, formal, seus ombros estavam rígidos.
- Ele era o meu melhor amigo, Edward - eu murmurei. Eu fiquei machucada por usar o
tempo passado. - É claro que a idéia me ofende.
- Por favor, perdoe a minha falta de consideração - ele disse, ainda muito formal. - Eu não
deveria ter sugerido isso.
- Não se preocupe com isso - eu olhei para as minhas mãos, fechadas nos meus pulsos em
cima da mesa.
Nós dois ficamos em silêncio por um momento, e depois seu dedo frio estava embaixo do
meu queixo, levantando o meu rosto. A expressão dele estava muito mais suave agora.
- Desculpe. Mesmo.
- Eu sei. Eu sei que não é a mesma coisa. Eu não devia ter reagido daquele jeito. É só que...
bem, eu já estava pensando em Jacob antes de você chegar. - Eu hesitei. Seus olhos pareciam
sempre ficar um pouco mais escuros quando eu falava o nome de Jacob. Em resposta, a minha
voz se tornou implorativa. - Charlie disse que Jake está passando por dificuldades. Ele está
machucado agora, e... é minha culpa.
- Você não fez nada errado, Bella.
Eu respirei fundo.
- Eu preciso melhorar as coisas, Edward. Eu devo isso a ele. E, além do mais, é uma das
condições de Charlie...
O rosto dele mudou enquanto eu falava, ficando duro de novo, como estátua. - Você sabe
que está fora de questão você ficar perto de um lobisomem desprotegida, Bella. E se algum de
nós passasse as barreiras das terras deles, estaria quebrando o acordo. Você quer que nós
comecemos uma guerra?
- É claro que não!
- Então não há nenhum sentido em levar essa discussão adiante. - Ele deixou a mão cair e
desviou o olhar, procurando por uma mudança de assunto. Os olhos dele pararam em alguma
coisa atrás de mim, e ele sorriu, apesar dos olhos dele estarem cautelosos.
- Eu fico feliz que Charlie tenha deixado você sair, você está precisando tristemente fazer
uma visita a uma livraria. Eu não posso acreditar que você está lendo O morro dos ventos uivantes
de novo. Você já não sabe ele de cor?
- Nem todos nós temos memória fotográfica - eu disse curtamente.
- Com memória fotográfica ou não, eu não entendo por que você gosta disso. Os
personagens são só pessoas que arruínam a vida uns dos outros. Eu não consigo entender como
Heathcliff e Cathy acabaram sendo comparados a casais como Romeu e Julieta ou Elizabeth
Bennett e Sr. Darcy. Essa não é uma história de amor, é uma história de ódio.
- Você tem sérios problemas com os clássicos - eu disparei.
- Talvez seja porque eu não fico impressionado com antiguidades.
Ele sorriu, evidentemente satisfeito por ter me distraído.
- No entanto, honestamente, por que é que você lê isso de novo e de novo? - Os olhos dele
estavam vívidos com real interesse agora, tentando - de novo - desvendar os complicados
trabalhos da minha mente. Ele se inclinou na mesa pra pegar o meu rosto nas mãos dele. - Por
que isso é apelativo pra você?
A sincera curiosidade dele me desarmou.
- Eu não tenho certeza - eu disse, lutando pra ser coerente enquanto o olhar dele não
intencionalmente confundia os meus pensamentos. - É alguma coisa relacionada a inevitabilidade.
Como nada consegue mantê-los separados, nem o egoísmo dela, nem o mau dele, e no fim, nem
mesmo a morte...
O rosto dele estava pensativo enquanto ele pensava nas minhas palavras. Depois de um
momento, ele deu um sorriso de zombaria.
- Eu ainda preferiria se um deles tivesse uma qualidade que os redimisse.
- Eu acho que é disso que eu estou falando - eu discordei. - O amor deles é a única
qualidade que os redime.
- Eu espero que você tenha mais senso que isso. se apaixonar por alguém tão... maligno.
- É um pouco tarde pra me preocupar com a pessoa pela qual eu vou me apaixonar - eu
apontei. - Mas mesmo sem o aviso, eu pareço ter me saído muito bem.
Ele riu baixinho.
- Eu me alegro que você pense isso.
- Bem, eu espero que você seja esperto o suficiente pra ficar longe de alguém tão egoísta. A
fonte de todo o problema na verdade é Catherine, não Heathcliff.
- Eu vou ficar de olho - ele prometeu.
Eu suspirei. Ele era muito bom com distrações.
Eu coloquei a minha mão em cima da dele pra segurá-la no meu rosto.
- Eu preciso ver Jacob.
Ele fechou os olhos.
- Não.
- Não é assim tão perigoso - eu disse, implorando de novo. - Ei, eu costumava passar o
tempo inteiro em La Push com eles e nada nunca aconteceu.
Mas eu cometi um deslize: minha voz falhou no final, porque eu me dei conta de que estava
dizendo palavras que não eram verdade. Não era verdade que nada nunca aconteceu. Um breve
flash de memória - um enorme lobo cinza se preparando pra saltar, mostrando seus dentes
afiados como facas pra mim - fez as palmas das minhas mãos suarem com o eco do pânico
relembrado.
Edward ouviu o meu coração acelerar e balançou a cabeça como se eu tivesse desmentido
tudo em voz alta.
- Lobisomens são instáveis. Às vezes as pessoas que estão por perto acabam se
machucando. Às vezes, elas morrem.
Eu queria negar isso, mas outra imagem parou a minha resposta. Eu vi em minha cabeça o
rosto da um dia linda Emily Young, agora marcada por um trio de cicatrizes escuras que
arrastavam o canto do seu olho direito e da sua boca que ficaram presos pra sempre numa careta
permanente.
Ele esperou, presumidamente triunfante, que eu encontrasse a minha voz.
- Você não os conhece - eu sussurrei.
- Eu os conheço melhor do que você pensa, Bella. Eu estava lá da última vez.
- Da última vez?
- Nós começamos a cruzar caminhos com os lobisomens há cerca de setenta anos... Nós
havíamos acabado de chegar em Hoquiam. Isso foi antes de Alice e Jasper estarem conosco. Nós
éramos um número maior que eles, mas isso não impediria que a coisa se tornasse uma briga se
não fosse por Carlisle. Ele conseguiu convencer Ephraim Black de que coexistir era possível, e
eventualmente nós fizemos a trégua.
O nome do bisavô de Jacob me surpreendeu.
- Nós pensamos que a linhagem havia morrido com Ephraim - Edward murmurou; agora
parecia que ele estava falando pra si mesmo. - Pensamos que a genética que permite a mutação
estava perdida... - Ele parou e olhou pra mim acusadoramente. - A sua má sorte parece ficar mais
forte a cada dia. Será que você se dá conta de que sua tendência insaciável a todas as coisas
letais foi forte o suficiente pra recuperar um bando de caninos mutantes em extinção? Se nós
pudéssemos colocar a sua má sorte em uma garrafa, nós teríamos uma arma de destruição em
massa em nossas mãos.
Eu ignorei a piada, minha atenção ficou presa na suposição dele - ele estava falando sério?
- Mas não fui eu quem os trouxe de volta. Você não sabe?
- Sabe do que?
- A minha má sorte não tem nada a ver com isso. Os lobisomens voltaram porque os
vampiros voltaram.
Edward me encarou, seu corpo ficou imóvel com a surpresa.
- Jacob me disse que a sua família estar aqui fez as coisas se movimentarem. Eu pensei que
você já sabia...
Os olhos dele se estreitaram.
- É isso que eles pensam?
- Edward, olhe para os fatos. Há setenta anos atrás você veio pra cá e os lobisomens
apareceram também. Você voltou agora e os lobisomens apareceram de novo. Você acha que é
coincidência?
Ele piscou e o seu olhar relaxou.
- Carlisle ficará interessado nessa teoria.
- Teoria - eu zombei.
Ele ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela para a chuva; eu imaginei que
ele estava contemplando a idéia de que a presença dele e de sua família estava transformando os
moradores locais em cachorros gigantes.
- Interessante, mas não exatamente relevante - ele murmurou de repente. - A situação
continua a mesma.
Eu podia traduzir isso facilmente: nada de amigos lobisomens.
Eu sabia que tinha de ser paciente com Edward. Não era que ele não estava sendo razoável,
é só que ele não conseguia entender. Ele não fazia idéia do quanto eu devia a Jacob Black - minha
vida muitas vezes acabada, e possivelmente a minha sanidade também. Eu não queria mais falar
desses tempos estéreis, e Edward especialmente também não. Ele estava apenas tentando me
salvar quando foi embora, tentando salvar minha alma.
Eu não o responsabilizava por todas as coisas estúpidas que havia feito na ausência dele, ou
pela dor que eu sofri. Ele se responsabilizava.
Então eu teria que colocar a minha explicação em palavras muito cuidadosamente. Eu me
levantei e rodeei a mesa, ele abriu os braços e eu me sentei no colo dele, me aconchegando no
seu abraço frio como pedra. Eu olhei para as mãos dele enquanto falava.
- Por favor, me ouça por um minuto. Isso é muito mais do que um gesto de caridade com
um amigo antigo. Jacob está sofrendo. - Minha voz se contorceu na palavra. - Eu não posso não
tentar ajudá-lo, eu não posso desistir dele agora, quando ele precisa de mim. Só porque ele não é
humano o tempo inteiro... Bem, ele estava lá por mim quando eu estava... - Eu hesitei. Os braços
de Edward estavam rígidos ao meu redor; as mãos dele estavam nos punhos agora, os tendões
dele se destacam. - Se Jacob não tivesse me ajudado... Eu não tenho certeza do que você
encontraria ao voltar pra casa. Eu tenho que tentar melhorar as coisas. Eu devo-lhe mais que isso,
Edward.
Eu olhei para o rosto dele cautelosamente. Os olhos dele estavam fechados e a mandíbula
dele estava trincada.
- Eu nunca vou me perdoar por ter te deixado - ele murmurou - Nem se eu viver cem mil
anos.
Eu coloquei a minha mão no seu rosto frio e esperei até que ele suspirou e abriu os olhos.
- Você só estava tentando fazer a coisa certa, e eu tenho certeza de que teria funcionado
com alguém menos louco que eu. Além do mais, você está aqui agora. Essa é a parte que importa.
- Se eu não tivesse ido embora, você não estaria tendo que arriscar sua vida pra confortar
um cachorro.
Eu vacilei. Eu estava acostumada a Jacob e os seus apelidos pejorativos - sugador de
sangue, sanguessuga, parasita... De alguma forma, eles pareciam mais ofensivos na voz
aveludada de Edward.
- Eu não sei como frasear isso apropriadamente - Edward disse, e o tom dele ficou vazio. -
Vai soar cruel, eu acho. Mas eu já cheguei perto de te perder no passado. Eu sei como me sinto só
de pensar nisso. Eu não vou tolerar nada perigoso.
- Você precisa confiar em mim nisso. Eu vou ficar bem.
O rosto dele demonstrou dor de novo.
- Por favor, Bella - ele sussurrou.
Eu olhei dentro dos seus olhos dourados, repentinamente flamejantes. - Por favor o que?
- Por favor, por mim. Faça um esforço consciente pra se manter em segurança. Eu farei tudo
o que puder, mas eu apreciaria um pouco de ajuda.
- Eu vou trabalhar nisso - eu murmurei.
- Você realmente tem alguma idéia do quanto é importante pra mim? Algum conceito do
quanto eu te amo? - Ele me segurou com mais força contra o peito, colocando a minha cabeça
embaixo do queixo dele.
Eu pressionei meus lábios no pescoço frio como neve dele.
- Eu sei o quanto eu amo você - eu respondi.
- Você está comparando uma pequena árvore a uma floresta inteira.
Eu revirei meus olhos, mas ele não podia ver.
- Impossível.
Ele beijou o topo da minha cabeça e suspirou.
- Nada de lobisomens.
- Eu não vou seguir isso. Eu tenho que ver Jacob.
- Então eu vou ter que te impedir.
Ele parecia extremamente confiante de que isso não seria um problema.
Eu tinha certeza de que ele estava certo.
- Nós veremos isso - eu blefei do mesmo jeito. - Ele ainda é meu amigo.
Eu podia sentir o bilhete de Jacob no meu bolso, como se de repente ele pesasse dez quilos.
Eu podia ouvir as palavras na voz dele, e ele parecia concordar com Edward - coisa que jamais
aconteceria na realidade.
Isso não muda nada. Desculpe.
2. FUGA
Eu me senti estranhamente contente enquanto caminhava da aula de Espanhol em direção
ao refeitório, e não era só porque eu estava de mãos dadas com a pessoa mais perfeita do
planeta, apesar de que essa era certamente parte da razão.
Talvez fosse o conhecimento de que a minha sentença estava acabada e eu era uma mulher
livre novamente.
Ou talvez não tivesse nada a ver comigo especificamente. Talvez fosse a atmosfera de
liberdade que pairava sobre o campus inteiro. As aulas estavam acabando e, especialmente para a
classe do último ano, havia uma alegria perceptível no ar.
A liberdade estava tão próxima que era tocável, degustável. Os sinais dela estavam em todo
lugar. Posters se amontoavam nas paredes do refeitório, e as latas de lixo usavam uma vestimenta
colorida amontoada de panfletos: lembretes pra comprarmos os livros do ano, anéis de classes, e
anúncios; prazos para as roupas da formatura, chapéus e borlas; panfletos de vendas cor de néon
– a campanha dos alunos calouros para a coordenação da sala; anúncios mau-agourentos,
decorados com rosas, sobre o baile desse ano. O grande baile era no próximo fim de semana, mas
eu tinha uma promessa inquebrável de Edward de que eu não seria submetida áquilo de novo.
Afinal de contas, eu já havia passado por aquela experiência humana.
Não, devia ser a minha liberdade pessoal que me iluminava hoje. O fim do calendário escolar
não me trouxe o mesmo prazer que parecia trazer aos outros alunos. Na verdade, eu me sentia
nervosa a ponto de sentir náuseas toda vez que pensava nisso. Eu tentava não pensar nisso.
- Você já enviou seus convites? - Angela perguntou quando Edward e eu nos sentamos em
nossa mesa. Ela tinha o cabelo castanho claro preso para trás em um rabo-de-cavalo em vez de
seu lizo natural, e havia um olhar ligeramente frenético em seus olhos.
Alice e Ben já estavam lá também, cada um em um lado de Angela. Ben estava atento a um
Gibi, seus óculos escorregando pelo seu nariz fino. Alice estava examinando meu Jeans-e-camiseta
sem graça de um jeito que me deixou constrangida. Provavelmente planejando outro look. Eu
suspirei. Minha atitude indiferente em relação à moda aborrecia Alice. Se eu deixasse, ela amaria
me vestir todo dia – talvez várias vezes ao dia – como alguma boneca de papel tridimensional
extra-grande.
- Não - eu respondi a Angela. - Não faz sentido, de verdade. Renée sabe quando eu me
formo. Quem mais há?
- E você, Alice?
Alice sorriu. - Tudo feito.
- Sorte sua. - Angela suspirou. - Minha mãe tem uns mil primos e espera que eu escreva o
endereço para todo mundo. Vou ficar com dor no pulso. Eu não posso adiar muito isso e estou
meio assustada.
- Eu posso ajudá-la - Eu me ofereci. - Se você não se importar com a minha letra horrível.
Charlie gostaria disso. Pelo canto do olho, viu Edward sorrir. Ele devia gostar daquilo
também - de mim cumprindo as condições de Charlie sem envolver lobisomens.
Angela pareceu aliviada. - Que legal da sua parte. Eu virei a qualquer hora que você quiser.
- Na verdade, eu prefiro ir à sua casa se estiver tudo bem, Estou cansada da minha. Charlie
me liberou noite passada. - Eu sorri enquanto contava as boas notícias.
- Sério? - Angela perguntou, um suave excitamento iluminou seus olhos castanhos sempre
gentis - Pensei que você tinha dito que estava de castigo pelo resto da vida.
- Estou mais surpresa que você. Eu tinha certeza que iria pelo menos ter terminado o ensino
médio antes de ele me deixar livre.
- Bem, isso é ótimo, Bella! Nós temos que sair para comemorar.
- Você tem idéia de como isso é bom.
- O que deveríamos fazer? - Alice meditou, sua face se iluminando com as possibilidades. As
idéias de Alice geralmente eram um pouco grandiosas para mim, e eu podia ver isso em seus
olhos agora – a tendência de fazer coisas longe demais virando ação.
- O que quer que você esteja pensando, Alice, eu duvido que esteja livre para isso.
- Livre é livre, certo? - ela insistiu.
- Tenho certeza que eu ainda tenho limites, como o continente estado-unidense, por
exemplo.
Angela e Ben riram, mas Alice fez uma careta de verdadeiro desapontamento.
- Então o que nós vamos fazer hoje à noite? - ela persistiu.
- Nada. Olhe, vamos dar uns dois dias para ter certeza de que ele não estava brincando. É
uma noite de escola, de qualquer forma.
- Nós vamos comemorar esse final de semana, então. - O entusiasmo de Alice era impossível
de reprimir.
- Claro – eu disse, esperando aplacá-la. Eu sabia que não estava indo fazer nada longe
demais; seria mais seguro ir devagar com Charlie. Dar a ele a chance de avaliar quão merecedora
de confiança e madura eu era antes de pedir qualquer favor.
Angela e Alice começaram a falar sobre opções; Ben se juntou à conversa, colocando seu
Gibi de lado. Minha atenção se desviou. Eu estava surpresa por descobrir que o assunto da minha
liberdade de repente não era tão agradável quanto há apenas um momento trás. Enquanto eles
discutiam coisas para fazer em Port Angeles ou talvez em Hoquiam, eu comecei a me sentir
decepcionada.
Não demorei muito para determinar de onde veio minha impaciência.
Desde quando eu disse adeus para Jacob Black na floresta além da minha casa, eu tinha
sido infeccionada por uma persistente e desconfortável invasão de uma figura mental específica.
Ela entrava nos meus pensamentos em intervalos regulares como algum incômodo despertador
programado para tocar a cada meia hora, enchendo minha cabeça com a imagem do rosto de
Jacob contorcido de dor. Esta era a última memória que eu tinha dele.
Conforme a perturbadora visão me atingia novamente, eu sabia exatamente por que eu
estava insatisfeita com a minha liberdade. Porque era incompleta.
Claro, eu estava livre para ir a qualquer lugar que eu quisesse – exceto La Push; livre para
fazer qualquer coisa que eu quisesse – exceto ver Jacob. Olhei a mesa com desagrado. Tinha que
haver algum tipo de território intermediário.
- Alice? Alice!
A voz de Angela me arrancou do meu devaneio. Ela estava agitando sua mão para frente e
para trás diante do rosto pálido de Alice, olhando-a fixamente. A expressão de Alice era algo que
eu reconhecia – uma expressão que produziu um automático choque de pânico dentro do meu
corpo. O olhar vago em seus olhos me disse que ela estava vendo alguma coisa muito diferente da
cena do refeitório mundando que nos cercava, mas algo de que cada pedaço era tão verdadeiro
do seu próprio modo. Alguma coisa estava vindo, alguma coisa que aconteceria logo. Eu senti o
sangue sumir do meu rosto.
Então Edward riu, um som muito natural, tranqüilo. Angela e Ben olharam em direção a ele,
mas meus olhos estavam presos em Alice. Ela pulou de repente, como se alguém a tivesse
chutado por debaixo da mesa.
- Já é hora de dormir, Alice? - Edward provocou.
Alice voltou a si novamente. - Desculpem, eu estava sonhando acordada, acho.
- Sonhar acordada é melhor do que encarar mais duas horas de aula. - Ben disse.
Alice voltou à conversa com mais animação que antes – só um pouquinho demais. Uma vez
eu vi seus olhos se prenderem aos de Edward, só por um momento, e então ela olhou de volta
para Angela antes que alguém mais notasse. Edward estava quieto, brincando inconscientemente
com um fio do meu cabelo.
Eu esperei ansio