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ÍNDICE
1. À PRIMEIRA VISTA .............................................................................................................. 4
2. LIVRO ABERTO .................................................................................................................. 14
3. FENÔMENO ......................................................................................................................... 24
4. CONVITE ............................................................................................................................. 31
5. TIPO SANGUÍNEO .............................................................................................................. 39
6. HISTÓRIAS ASSUSTADORAS ........................................................................................... 50
7. PESADELO ........................................................................................................................... 58
8. PORT ANGELES .................................................................................................................. 68
9. TEORIA ............................................................................................................................... 80
10. INTERROGAÇÕES ............................................................................................................ 88
11. COMPLICAÇÕES ............................................................................................................... 98
12. OSCILANDO .................................................................................................................... 106
13. CONFISSÕES .................................................................................................................. 117
14. A MENTE DOMINA A MATÉRIA ................................................................................... 128
15. OS CULLEN ..................................................................................................................... 139
16. CARLISLE ........................................................................................................................ 148
17. O JOGO ........................................................................................................................... 154
18. A CAÇADA ....................................................................................................................... 166
19. DESPEDIDAS .................................................................................................................. 172
20. IMPACIÊNCIA ................................................................................................................. 178
21. TELEFONEMA ................................................................................................................. 186
22. ESCONDE-ESCONDE ..................................................................................................... 190
23. O ANJO ............................................................................................................................ 198
24. UM IMPASSE................................................................................................................... 201
EPÍLOGO: UM ACONTECIMENTO ESPECIAL .................................................................... 211
PREFÁCIO
Eu nunca pensei muito sobre como eu iria morrer - achei que eu tinha motivos suficientes
nos últimos meses - mas mesmo que eu não tivesse, eu não iria imaginar assim.
Eu encarei sem respirar através do longo aposento, dentro dos olhos escuros do caçador, e
ele olhou agradavelmente de volta pra mim.
Com certeza essa foi uma boa forma de morrer, no lugar de outra pessoa, outra pessoa que
eu amava.
Nobre, até. Que deve ser levado em conta pra alguma coisa.
Eu sabia que se eu nunca fosse para Forks, eu não estaria encarando a morte agora. Mas,
aterrorizada como eu estava, eu não podia me fazer lamentar a decisão.
1. À PRIMEIRA VISTA
Minha mãe me levou ao aeroporto com as janelas abaixadas. Estava fazendo 24°C em
Phoenix, o céu estava um azul perfeito e sem nuvens. Estava vestindo minha camiseta preferida:
sem mangas, de renda furadinha. Usava-a como um gesto de despedida. Minha bagagem de mão
era um parka.
Na Península Olímpica, no noroeste do estado de Washington, nos Estados Unidos, existe
uma cidadezinha chamada Forks que está quase que constantemente coberta por nuvens. Nessa
cidade desimportante chove mais do que em qualquer outro lugar do país. Foi dessa cidade e da
sua sombra depressiva e onipresente que minha mãe fugiu comigo quando eu tinha só alguns
meses de vida. Era nessa cidade que eu era obrigada a passar todos os verões até completar 14
anos. Aquele foi o ano em que bati o pé. Então, nos últimos três verões, meu pai, Charlie, passou
duas semanas de férias comigo na Califórnia.
Agora era em Forks que ia me exilar, algo que fiz com muito custo. Eu detestava Forks.
Eu amava Phoenix. Amava o sol e o calor escaldante. Amava a cidade vigorosa e grande.
- Bella - minha mãe me disse - pela milésima vez - antes de eu entrar no avião. - Você não
precisa fazer isso.
Minha mãe parece-se comigo, exceto pelo cabelo curto e pelo rosto risonho. Senti um
espasmo ao encarar os olhos infantis e bem abertos dela. Como poderia deixar minha amorosa,
errática e ingênua mãe para se cuidar sozinha? Claro, ela tinha o Phil agora, então as contas
provavelmente seriam pagas, haveria comida na geladeira, gasolina no carro, e alguém pra ligar
quando ela se perdesse, mas ainda assim...
- Eu quero ir - eu menti. Sempre fui uma péssima mentirosa, mas já estava contando essa
mentira tão freqüentemente por esses dias que agora já soava quase convincente.
- Diz 'oi' para o Charlie por mim.
- Pode deixar.
- Verei você logo - ela insistiu. - Pode voltar pra casa quando quiser. Virei assim que você
precisar.
Mas pude perceber o sacrifício em seus olhos, por trás da promessa.
- Não se preocupe comigo - eu pedi - Vai ser ótimo. Amo você, mãe.
Ela me abraçou apertado por um tempo, então entrei no avião e ela se foi.
De Phoenix para Seatle o vôo dura quatro horas, mais uma hora num pequeno avião até
Port Angeles, e então uma hora de carro até Forks. O vôo não me incomodava, já passar uma
hora num carro com Charlie estava me preocupando.
Charlie estava sendo até legal sobre essa história toda. Ele parecia genuinamente feliz que
eu iria morar com ele quase que permanentemente pela primeira vez. Ele já tinha me matriculado
na escola e ia me ajudar a arranjar um carro.
Mas com certeza ia ser estranho morar com Charlie. Nenhum de nós era o que se poderia
chamar de falantes, e nem sei o que haveria para ser dito. Sabia que ele estava mais do que
confuso com a minha decisão - como minha mãe já havia feito antes de mim, eu nunca tinha
escondido que não gostava de Forks.
Quando o avião pousou em Port Angeles, estava chovendo. Não achei que fosse um mau
presságio, só era inevitável. Já tinha me despedido do sol.
Charlie estava me esperando no carro-patrulha. Já era de se esperar. Charlie é o Chefe de
Polícia para os bons cidadãos de Forks. Meu motivo maior para comprar um carro, apesar da
escassez dos meus rendimentos, era que eu me negava ser levada pela cidade num carro com
luzes vermelhas e azuis em cima. Nada melhor pra fazer o trânsito andar devagar do que um
policial.
Charlie me deu um abraço meio estranho, de um braço só, quando sai tropeçando do avião.
- Bom te ver, Bells. - ele disse sorrindo, enquanto automaticamente me segurava para eu
não cair. - Você não mudou muito. Como vai Renée?
- Mamãe vai bem. É bom te ver também, pai. - ele não me deixava chamá-lo de Charlie.
Só tinha trazido algumas malas. A maior parte das roupas que usava no Arizona eram muito
permeáveis para usar em Washington. Minha mãe e eu tínhamos nos juntado para suplementar
meu guarda-roupa com roupas de inverno, mas ainda tinha pouca coisa. Coube tudo na mala do
carro-patrulha, facilmente.
- Achei um bom carro para você, bem barato. - ele anunciou quando já estávamos no carro.
- Que tipo de carro? - achei suspeito a maneira como ele disse "carro bom para você", ao
invés de só "carro bom".
- Bem, na verdade é uma caminhonete, um Chevrolet.
- Onde o achou?
- Lembra-se de Billy Black, de La Push? - La Push é a pequena reserva indígena na costa.
- Não.
- Ele costumava ir pescar conosco no verão. - Charlie ofereceu ajuda.
Isso explicaria porque eu não lembrava dele. Me dou bem em bloquear da minha memória
coisas dolorosas e desnecessárias.
- Ele está numa cadeira de rodas agora - Charlie continuou quando não respondi - então não
pode dirigir mais, por isso se ofereceu para vender a caminhonete bem barato.
- De que ano é? - pude ver pela mudança de expressão que essa era uma pergunta que ele
esperava que eu não fosse fazer.
- Bem, Billy trabalhou bastante no motor - só tem alguns anos.
Esperava que ele não fosse achar que eu desistiria assim tão fácil. - Quando ele comprou a
caminhonete?
- Acho que foi em 1984.
- Era nova quando ele comprou?
- Na verdade, não. Acho que era nova no começo dos anos 60 - ou no fim dos 50, no
máximo. - ele admitiu, envergonhado.
- Ch... pai, não sei muito sobre carros. Não saberia consertar nada se estragasse, e não
poderia pagar um mecânico...
- Realmente, Bella, a coisa anda direito. Não fazem mais carros como aquele.
A coisa, pensei comigo mesma... era uma possibilidade - como apelido, no mínimo.
- Barato é quanto? - afinal, essa era a parte onde eu não podia abrir mão.
- Bem, querida, eu meio que já comprei ele pra você. Um presente de boas-vindas. - Charlie
espiou para o meu lado, com uma expressão esperançosa no rosto.
Uau. De graça.
- Não precisava fazer isso, pai. Eu ia comprar o carro eu mesma.
- Eu não me importo. Quero que você seja feliz aqui. - Ele olhava em frente na estrada
quando falou isso. Charlie não ficava confortável ao expressar suas emoções em voz alta. Eu
herdei isso dele. Então olhava bem pra frente quando respondi.
- Isso foi muito legal, pai, obrigada. Fico muito agradecida. - não precisava adicionar que eu
ser feliz em Forks era uma impossibilidade. Ele não precisava sofrer comigo. E eu nunca recusaria
uma caminhonete de graça.
- Bem, então, de nada. - ele murmurou, envergonhado com o meu agradecimento.
Trocamos mais alguns comentários sobre o tempo, que estava molhado, e era isso em
termos de conversa. Ficamos olhando pela janela em silêncio.
Era lindo, claro, não podia negar isso. Tudo era verde: as árvores, os troncos cobertos de
musgo, os galhos pendurados formando uma cobertura, o chão coberto com plantas. Até mesmo o
ar ficava meio verde ao passar pelas folhas.
Era muito verde - um planeta alienígena.
Finalmente chegamos na casa do Charlie. Ele ainda vivia na casa pequena, de dois quartos,
que ele comprara com minha mãe logo que se casaram. Esse foi o único período do casamento
deles. Ali, estacionada na rua em frente à casa que nunca mudara, estava minha nova - bem,
nova para mim - caminhonete. Era uma cor vermelha desbotada, com uma grande cabina e
enormes calotas. Para minha grande surpresa, eu amei. Não sabia se ela ia andar, mas conseguia
me imaginar dentro dela. Ainda por cima, era uma daquelas coisas sólidas de ferro, que nunca se
amassam - do tipo que se vê num acidente nem arranhada, circundada pelos pedaços do carro
que ela tinha destruído.
- Uau, pai, adorei! Obrigada! - agora meu dia horrível que seria amanhã iria ser um pouco
menos horroroso. Eu não precisaria escolher entre andar na chuva por mais de três quilômetros ou
aceitar uma carona no carro-patrulha para chegar no colégio.
- Fico feliz que você tenha gostado. - Charlie disse, envergonhado de novo.
Só precisou uma viagem para levar todas as minhas coisas para o andar de cima. Fiquei com
o quarto que tinha janela para o pátio da frente. O quarto me era familiar. Era meu desde que
tinha nascido. O chão de madeira, as paredes azul claro, o teto curvado, as cortinas de renda já
amareladas - tudo isso fez parte da minha infância. As únicas mudanças que Charlie tinha feito
fora por eu ter crescido: mudou o berço por uma cama e colocou um escrivaninha. A escrivaninha
agora tinha um computador de segunda-mão, com o fio do telefone para a internet grampeada
pelo chão até chegar na tomada de telefone mais próxima. Isso tinha sido estipulado por minha
mãe, para que pudéssemos manter contato fácil. A cadeira de balanço dos meus tempos de bebê
ainda estava num canto.
Havia somente um pequeno banheiro no andar de cima, o qual teria que dividir com Charlie.
Tentava não pensar muito nisso.
Uma das coisas boas sobre Charlie é que ele não fica me cuidando. Ele me deixou sozinha
para desfazer minhas malas e me ajeitar, uma coisa que seria completamente impossível para
minha mãe. Era bom poder estar sozinha e não ter que ficar sorrindo e parecer feliz. E era um
alívio poder olhar com desânimo para a chuva na janela e deixar escaparem algumas lágrimas.
Não estava afim de começar uma choradeira. Guardaria isso para a hora de dormir, quando fosse
pensar na manhã que estava por vir.
A Escola de Forks tinha o aterrorizante total de apenas trezentos e cinquenta e sete - agora
cinquenta e oito - alunos. Só no meu ano, lá em Phoenix, havia mais de setecentos alunos. Todo
mundo aqui tinham crescido juntos - seus avós tinham sido bebês juntos.
Eu seria a garota nova da cidade grande. Uma curiosidade, uma aberração.
Talvez se eu parecesse com uma garota de Phoenix isso poderia ser uma vantagem. Mas
fisicamente eu nunca me encaixaria em lugar algum. Eu deveria ser bronzeada, esportiva, loira -
jogadora de vôlei, ou líder de torcida, talvez - essas coisas associadas ao vale do sol.
No lugar disso, eu tinha pele branca apesar do sol constante, sem nem ter a desculpa de ter
olhos azuis ou cabelos ruivos. Sempre fora meio magra, mas nem tanto, obviamente não era
atleta. Não tinha a coordenação motora necessária para praticar esportes sem me humilhar - e
machucar a mim mesma ou qualquer um parado muito perto de mim.
Quando terminei de colocar minhas roupas no velho guarda-roupa de pinho, peguei minha
bolsa de produtos de beleza e fui ao banheiro comunal para me lavar depois do dia de viagem.
Olhei para meu rosto no espelho enquanto penteava meu cabelo embaraçado e úmido. Talvez
fosse a luz, mas eu já parecia mais pálida, pouco saudável. Minha pele poderia ser bela - era bem
clara, parecia transparente - mas tudo dependia da cor, e eu não tinha isso.
Encarando meu reflexo pálido no espelho fui obrigada a admitir que estava mentindo para
mim mesma. Não era só fisicamente que eu nunca me encaixaria. E seu eu não conseguia achar
um lugar para mim numa escola com três mil pessoas, quais eram minhas chances aqui?
Eu não me relacionava bem com pessoas da minha idade. Talvez a verdade fosse que eu
não me relacionava bem com as pessoas, ponto. Até minha mãe, que era a pessoa mais próxima
de mim no planeta, nunca estava em harmonia comigo, nunca estávamos exatamente de acordo.
As vezes imaginava se eu via as mesmas coisas através de meus olhos que o resto do mundo via
com os deles. Talvez houvesse um problema no meu cérebro. Mas o motivo não importava. O que
importava era o resultado. E amanhã seria só começo.
Não dormi bem naquela noite, mesmo depois de ter chorado tudo que precisava. O barulho
constante da chuva e do vento no telhado não saiam da minha mente. Puxei a coberta desbotada
sobre minha cabeça e depois adicionei o travesseiro também. Mas não consegui dormir até depois
da meia-noite, quando a chuva finalmente diminuiu para um chuvisco.
Cerração fechada era tudo que conseguia ver pela minha janela de manhã, e pude sentir a
claustrofobia começada. Não se podia ver o céu aqui, era quase uma jaula.
O café-da-manhã com Charlie foi um evento silencioso. Ele me desejou boa-sorte na escola.
Eu agradeci, sabendo que as esperanças dele eram inúteis. Boa-sorte tinha a tendência de me
evitar. Charlie saiu primeiro, indo para o posto policial que era sua esposa e família. Depois que
ele saiu, sentei à velha mesa quadrada em uma das três cadeiras que não combinavam entre si e
examinei sua pequena cozinha, suas paredes com painéis escuros, armários amarelo brilhante, e
piso de linóleo branco. Nada mudara. Minha mãe pintara os armários dezoito anos antes na
tentativa de trazer alguma luz para a casa. Sobre a pequena lareira, na sala do tamanho de um
lenço que ficava logo ao lado da cozinha, havia uma fileira de fotos. A primeira era uma do
casamento de Charlie e minha mãe em Las Vegas, uma de nós três no hospital quando eu nasci,
tirada por uma enfermeira prestativa, seguida de uma procissão de fotos escolares minhas até o
último ano. Essas eram embaraçosas de se ver - teria que ver se convencia Charlie a colocá-las em
outro lugar, pelo menos enquanto eu estivesse morando aqui.
Era impossível, estando nessa casa, não perceber que Charlie nunca tinha superado minha
mãe. Isso me fazia ficar desconfortável.
Eu não queria chegar cedo demais na escola, mas não podia ficar mais na casa . Vesti meu
casaco - que me fazia sentir como numa roupa anti-nuclear - e sai para a chuva.
Ainda chuviscava, mas não o suficiente para me molhar muito enquanto procurava pelas
chaves da casa que sempre ficavam escondidas nas plantas perto da porta e a trancava. O barulho
das minhas novas botas à prova d'água era irritante. Sentia falta do barulho normal de cimento
quando caminhava. Não pude parar para admirar minha nova caminhonete como queria. Estava
com pressa para sair da névoa molhada que rondava minha cabeça e se grudava no meu cabelo
por baixo do capuz.
Dentro da caminhonete estava seco e bom. Obviamente, Billy ou Charlie tinham limpado o
carro, mas os assentos ainda cheiravam vagamente à tabaco, gasolina e menta. O motor ligou
rápido, para meu alívio, mas bem alto, ganhando vida ruidosamente e então chegando ao volume
máximo. Bom, uma caminhonete velha assim tinha que ter um defeito. O rádio velho funcionava,
uma vantagem que eu não esperava.
Achar a escola não foi difícil, apesar de nunca ter estado lá antes. Ela ficava, assim como a
maioria das coisas, bem perto da estrada. Não era obviamente uma escola, foi o painel, onde dizia
"Escola de Forks", que me fez parar. Parecia uma coleção de casas geminadas, construídas com
tijolos marrons. Havia tantas árvores e moitas que não pude perceber seu tamanho logo no início.
Onde estava a aparência de lugar público? Me perguntava nostalgicamente. Onde estavam as
cercas e os detetores de metais?
Estacionei em frente ao primeiro prédio, onde havia uma pequena placa que dizia
"secretaria". Não havia mais carros estacionados ali, então tive certeza de que era proibido, mas
decidi que pegaria instruções lá dentro ao invés de ficar andando em círculos na chuva como uma
idiota. Saí a contragosto da caminhonete quentinha e fui por um caminho de pedra circundado por
uma sebe escura. Respirei fundo antes de abrir a porta.
Lá dentro estava bem iluminado e bem mais quente do que imaginava. A secretaria era
pequena, com uma pequena sala de espera com cadeiras dobráveis, carpete laranja, avisos e
prêmios abarrotados pelas paredes e um grande e ruidoso relógio. A sala era partida ao meio por
um grande balcão, cheia de cestas de arame repletas de papéis e anúncios coloridos colados na
parte da frente. Havia três mesas atrás do balcão, uma delas ocupada por uma mulher ruiva e
grande, usando óculos. Ela vestia uma camiseta roxa, que imediatamente me fez sentir com
roupas demais.
A ruiva olhou para mim. - Posso ajudá-la?
- Sou Isabella Swan - informei-lhe, e vi seus olhos demonstrarem reconhecimento imediato.
Eu era esperada, tópico de fofocas, com certeza. A filha da ex-mulher do chefe de polícia
finalmente retorna à casa.
- Claro - ela disse. Ela percorreu uma pilha precária de documentos em sua mesa até achar
os que procurava. - Seu horário está aqui, e um mapa da escola. - Ela trouxe várias folhas até o
balcão para me mostrar.
Ela me ditou todas as minhas aulas, mostrando-me no mapa a melhor maneira de chegar
até elas, e me deu um papel para que todos os professores assinassem, que deveria trazer de
volta no fim do dia.
Ela sorriu para mim e desejou, como Charlie, que eu gostasse de Forks. Sorri de volta da
maneira mais convincente possível.
Quando cheguei de volta na caminhonete, outros alunos começavam a chegar. Fui atrás do
tráfego, contornando a escola. Fiquei feliz ao ver que a maior parte dos carros eram velhos como
o meu, nada muito chique. Em casa eu morava num dos poucos bairros de classe baixa que
estavam incluídos no Distrito Paradise Valley. Era comum ver um Mercedes ou Porsche novo no
estacionamento dos alunos. O carro mais legal aqui era um brilhante Volvo, que se sobressaia.
Mesmo assim, logo que estacionei desliguei o motor, para que o barulho enorme não chamasse
atenção para mim.
Olhei para o mapa na caminhonete, tentando memorizá-lo agora, esperando que não fosse
precisar andar com ele colado no nariz o dia todo. Enfiei tudo dentro da mochila, coloquei a alça
sobre o ombro e respirei bem fundo. "Posso fazer isso", menti muito mal para mim mesma.
Ninguém ia me morder. Eu finalmente exalei e sai do carro.
Fiquei com o rosto coberto pelo capuz enquanto caminhava até a calçada, cheia de
adolescentes. Meu casaco preto e simples não se destacava na multidão, percebi com alívio.
Assim que cheguei no refeitório era fácil de ver o prédio três. Um grande "3" estava pintado
num quadrado branco no casto leste do prédio. Senti minha respiração acelerar cada vez mais
enquanto me aproximava da porta. Tentei segurar minha respiração enquanto seguia duas capas
de chuva unisex através da porta.
A sala de aula era pequena. As pessoas na minha frente pararam assim que entraram na
sala para pendurar seus casacos numa longa fileira de ganchos. Fiz o mesmo. Eram duas garotas.
Uma loira com pele de porcelana, outra, também com a pele clara, tinha cabelos castanho claro.
Pelo menos a minha pele não se destacaria aqui.
Levei o papel para o professor, um homem alto e calvo. Sua mesa tinha uma placa que o
identificava como Sr. Mason. Ele ficou me olhando assim que leu meu nome - o que não era
encorajador - e lógico que fiquei vermelha igual a um tomate. Mas pelo menos ele me mandou
sentar numa classe vazia no fundo da sala sem me apresentar à turma. Era mais difícil para meus
colegas ficarem me encarando enquanto eu estava no fundo da sala, mas de alguma forma eles
conseguiam. Fixei meu olhar na lista de leitura que o professor tinha me dado. Era bem básica:
Brontë, Shakespeare, Chaucer, Faulkner. Já tinha lido todos. Isso era reconfortante... e chato.
Fiquei pensando se minha mãe me mandaria minha pasta de trabalhos velhos, ou se ia pensar que
isso era colar. Fiquei pensando em diferentes discussões que teria com ela enquanto o professor
falava.
Quando bateu o sinal, um garoto meio desajeitado, alto, com problemas de pele e cabelo
preto como carvão se encostou no batente da porta para falar comigo.
- Você é Isabella Swan, não é? - ele parecia do tipo muito prestativo, parte do clube de
xadrez.
- Bella - corrigi. Todo mundo em volta se virou para me olhar.
- Onde é sua próxima aula - ele perguntou.
Precisei olhar na mochila. - Hm, Governo, com o professor Jefferson, no prédio seis.
Não havia para onde olhar sem encontrar olhos curiosos.
- Estou indo para o prédio quatro, posso te mostrar o caminho... - definitivamente muito
prestativo.
- Sou Eric. - Ele adicionou.
Sorri discretamente. - Obrigada.
Pegamos nossos casacos e saimos para a chuva, que tinha ficado mais forte. Poderia jurar
que muitas das pessoas andando atrás de nós estavam perto o bastante para ficar ouvindo a
conversa. Desejei não estar ficando paranóica.
- Então, aqui é bem diferente de Phoenix, hein? - ele perguntou.
- Muito.
- Não chove muito lá, não é?
- Três ou quatro vezes por ano.
- Uau, como será que é isso? - ele ficou imaginando.
- Ensolarado. - eu lhe disse.
- Você não parece bronzeada.
- Minha mãe é parte albina.
Ele analisou meu rosto com apreensão e eu suspirei. Parecia que nuvens e senso de humor
não se misturavam. Alguns meses disso aqui e eu esqueceria como se usa sarcasmo.
Andamos de volta ao redor do refeitório, em direção aos prédios que ficavam no sul, ao lado
do ginásio. Eric me levou até a porta, apesar de estar bem claro que aquele era o prédio.
- Bem, boa sorte. - Ele disse enquanto eu alcançava a maçaneta. - Talvez tenhamos outras
aulas juntos. - Ele soava esperançoso.
Sorri vagamente para ele e entrei.
O resto da manhã passou da mesma maneira. Meu professor de trigonometria, o Sr. Varner,
a quem eu detestaria de qualquer forma por causa da matéria que ensinava, foi o único que me
fez ficar na frente da turma e me apresentar. Eu gaguejei, fiquei vermelha, e tropecei no caminho
para a minha classe.
Depois de duas aulas, comecei a reconhecer muitos dos rostos em cada uma delas. Sempre
havia aqueles que eram mais corajosos e vinham se apresentar e me perguntar se estava
gostando de Forks. Tentei ser diplomática, mas o que mais fiz foi mentir bastante. Pelo menos não
precisei usar o mapa.
Uma garota sentou do meu lado em ambas Trigonometria e Espanhol, e foi comigo até o
refeitório na hora do almoço. Ela era bem baixinha, com vários centímetros do que os meus
1,65m, mas o cabelo escuro e encaracolado ajudava a balancear nossa diferença de alturas. Não
conseguia lembrar o nome dela, então eu sorria e balançava a cabeça enquanto ela discorria sobre
os professores e sobre as aulas. Não tentei acompanhar a conversa.
Sentamos no final de uma mesa cheia dos amigos dela, os quais ela me apresentou. Esqueci
os nomes assim que ela os disse. Eles pareciam impressionados com a coragem dela para falar
comigo. O garoto do Inglês, Eric, acenou para mim do outro lado do refeitório.
Foi ali, sentada no refeitório, tentando conversar com vários estranhos curiosos, que eu os vi
pela primeira vez.
Eles estavam sentados num canto do refeitório, o mais longe possível de onde eu estava.
Eram cinco. Não conversavam e não comiam, apesar de cada um deles ter uma bandeja intocada
de comida na sua frente. Eles não estavam me encarando, como a maior parte dos outros alunos,
então era seguro ficar olhando para eles sem ter medo de encontrar um par de olhos
excessivamente interessado. Mas não foi nenhuma dessas coisas que chamou, e prendeu, minha
atenção.
Eles não se pareciam em nada. Dos três garotos, um era grande - musculoso como um
levantador de peso profissional, com cabelo escuro e encaracolado. Outro era alto, mais magro,
mas ainda musculoso, e com cabelo loiro escuro. O outro era mais magro, menos musculoso, com
cabelo cor de bronze, meio bagunçado. Ele parecia mais jovem do que os outros, que pareciam
que poderiam estar na faculdade, ou até mesmo serem professores ao invés de alunos.
As garotas eram opostos. A mais alta era maravilhosa. Ela tinha uma silhueta linda, do tipo
que se vê na capa da revista Sports Illustrated, na edição de roupas de banho, e daquelas que
fazem as outras garotas se sentirem mal consigo mesma só por estarem na mesma sala. O cabelo
dela era dourado, gentilmente balançando até o meio das costas. A outra garota era mais baixa e
parecia uma fadinha. Bem magra, com feições pequenas. O cabelo dela era totalmente preto,
cortado curtinho e apontando para todas as direções.
E ainda assim, eles se pareciam muito. Todos eram muito pálidos, os mais pálidos de todos
os alunos dessa cidade sem sol. Mais pálidos do que eu, a albina. Todos tinham olhos bem
escuros, apesar da diferença na cor dos cabelos. Além disso, eles tinham olheiras - sombras
arroxeadas, como machucados. Como se todos eles tivessem passado a noite em claro, ou quase
se recuperando de ter o nariz quebrado. Apesar de seus narizes, de todas as partes de seus
corpos, serem perfeitamente retos e angulares.
Mas não era por causa de tudo isso que não conseguia tirar os olhos deles.
Eu os olhava por que seus rostos, tão diferentes, tão iguais, eram todos devastadoramente,
inumanamente lindos. Eram rostos que você nunca espera encontrar além de, talvez, nas páginas
editadas de uma revista de moda. Ou pintadas por um dos velhos mestres como a face de um
anjo. Era difícil decidir quem era o mais belo - talvez a perfeita loira, ou o garoto com cabelos cor
de bronze.
Estavam todos olhando para longe - longe um dos outros, longe dos outros alunos, longe de
qualquer coisa em particular que eu pudesse ver. Enquanto eu olhava a garota mais baixa
levantou com a bandeja - o refrigerante fechado, a maçã inteira - e foi embora com um passo
rápido e gracioso que deveria estar em uma passarela. Eu fiquei olhando, maravilhada com os
passos de dançarina dela, até ela largar a bandeja e sair pela porta de trás, mais rápido do que eu
imaginava ser possível. Meus olhos voltaram logo para os outros, que estavam lá, sem mudanças.
- Quem são eles? - perguntei à garota da aula de espanhol, de quem eu não lembrava o
nome.
Enquanto ela olhava para ver de quem eu estava falando - apesar de já saber,
provavelmente, por causa do meu tom de voz - de repente ele olhou para ela, o mais magro, o
mais garoto de todos, talvez o mais jovem. Ele olhou para a garota do meu lado por só uma
fração de segundo e então seus olhos escuros se dirigiram aos meus.
Ele olhou para longe bem rápido, mais rápido do que eu conseguiria, apesar de numa onda
de vergonha eu tenha baixado meus olhos na mesma hora. Naquele pequeno instante, seu rosto
não aparentou interesse - era como se ela tivesse chamado o nome dele, e ele olhara numa
resposta involuntária, já tendo decidido que não ia responder.
A garota do meu lado riu envergonhada, olhando para a mesa, assim como eu.
- Aqueles são Edward e Emmett Cullen e Rosalie e Jasper Hale. A que foi embora é Alice
Cullen. Todos vivem juntos com o Dr. Cullen e a esposa dele. - Ela falou isso meio entre os dentes.
Olhei meio de lado para o garoto lindo, que agora olhava para a bandeja dele, picando um
pãozinho com dedos pálidos e longos. Seus lábios se moviam rapidamente, seus lábios perfeitos
mal se abrindo. Os outros três ainda olhavam para longe, ainda assim eu sentia que ele estava
falando com eles.
Nomes estranhos e pouco populares, eu pensei. Os tipos de nomes que avós tinham. Mas
talvez fosse moda aqui - nomes de cidade pequena? Finalmente lembrei que a garota ao meu lado
se chamava Jessica, um nome perfeitamente comum. Havia duas garotas chamadas Jessica na
minha aula de História, em Phoenix.
- Eles são... muito bonitos. - lutei contra a óbvia falta de intensidade do que disse.
- Sim! - Jessica concordou dando outro risinho. - Mas eles já estão juntos - Emmett e
Rosalie, e Jasper e Alice. E moram juntos. - A voz dela continha todo o choque e reprovação de
uma cidade pequena, pensei criticamente. Mas se eu fosse honesta, teria que admitir que até em
Phoenix algo assim seria motivo de fofocas.
- Quais são os Cullens? - perguntei - Eles não se parecem...
- Ah, mas não são. O Dr. Cullen é bem jovem, tem uns 20 ou 30 e poucos. São todos
adotados. Já os Halle são irmão e irmã, gêmeos - são os loiros - e vivem com eles.
- Eles não são um pouco velhos pra isso?
- Agora sim, Jasper e Rosalie já têm dezoito anos, mas vivem com a Sra. Cullen desde que
tinham oito. Ela é tia deles ou algo assim.
- Isso é bem legal - deles cuidarem de todas essas crianças assim, sendo tão jovens.
- Acho que sim. - Jessica admitiu relutantemente, e fiquei com a impressão de que ela não
gostava do doutor e da esposa dele por algum motivo. Com os olhares que ela dava na direção
deles, imaginei que o motivo fosse inveja. - Mas acho que a Sra. Cullen não pode ter filhos. - ela
disse, como se isso diminuísse a bondade deles.
Durante toda essa conversa, meus olhos iam e voltavam para a mesa onde a estranha
família estava sentada. Eles continuavam olhando para as paredes e não comendo.
- Eles sempre moraram em Forks? - perguntei. Com certeza eu os teria notado em algum
dos meus verões aqui.
- Não. - ela disse num tom de voz que implicava que isso era óbvio, até alguém recém
chegado como eu deveria saber. - Eles vieram para cá dois anos atrás, vindos de algum lugar no
Alasca.
Senti uma onda de compaixão, e alívio. Compaixão porque, apesar de serem lindos, eram de
fora, claramente não eram aceitos. Alívio porque eu não era a única novata aqui, e certamente
não a mais interessante.
Enquanto eu os analisava, o mais novo, um dos Cullens, olhou para mim e nossos olhos se
encontraram, dessa vez com uma expressão evidente de curiosidade. Enquanto eu esquivava meu
olhar, me pareceu que no dele havia alguma expectativa não alcançada.
- Qual deles é o garoto de cabelos castanhos avermelhados? - perguntei. Espiei com o canto
do olho e ele ainda me encarava, mas não como os outros alunos tinham feito durante todo o dia -
a expressão dele era meio frustrada. Olhei para baixo novamente.
- Aquele é Edward. Ele é maravilhoso, lógico, mas não perca tempo. Ele não namora.
Nenhuma das garotas daqui são bonitas o suficiente para ele, aparentemente. - ela desdenhou,
um caso claro de rejeição. Fiquei me perguntando quando ele tinha rejeitado ela.
Mordi o lábio para esconder um sorriso, e então olhei para ele novamente. Seu rosto estava
virado para o outro lado, mas me pareceu, pelos músculos do rosto, que ele sorria também.
Após mais alguns minutos os outros quatro deixaram a mesa juntos. Todos eram
notoriamente graciosos - até mesmo o grandalhão. Era algo desconcertante de se observar. O que
se chamava Edward não olhou para mim novamente.
Fiquei na mesa com Jessica e seus amigos mais tempo do que ficaria se estivesse sozinha
ali. Estava ansiosa para não chegar atrasada nas aulas no meu primeiro dia. Uma das minhas
novas conhecidas, que gentilmente me lembrou que seu nome era Angela, tinha Biologia II
comigo no próximo período. Fomos juntas para a aula, em silêncio. Ela era tímida também.
Quando entramos na sala de aula, Angela foi sentar-se numa mesa de laboratório, com
tampa preta, exatamente como as que eu estava acostumada. Ela já tinha um par. Na verdade,
todas as mesas estavam ocupadas, com a exceção de uma. Ao lado da fileira do meio, reconheci
Edward Cullen por seu cabelo peculiar, sentado ao lado da única cadeira vazia.
Enquanto fui até o professor para me apresentar e pedir para que ele assinasse meu papel,
secretamente observava Edward. No momento em que passei, ele ficou rígido de repente. Ele me
encarou novamente, seus olhos encontraram os meus com a mais estranha das expressões em
seu rosto - era hostil, furiosa. Olhei para longe rapidamente, chocada, ficando vermelha
novamente. Tropecei num livro e precisei me segurar em uma mesa. A menina sentada ali riu.
Tinha notado que os olhos dele eram negros, como carvão.
O Sr. Banner assinou meu papel e me entregou um livro sem o besteirol das apresentações.
Pude prever que nos daríamos bem. Obviamente, ele não tinha escolha a não ser mandar eu me
sentar na única classe vazia no meio da sala. Mantive meu olhar baixo enquanto ia sentar ao lado
dele, confusa com o olhar maldoso que ele tinha me dado.
Não olhei para cima enquanto colocava o livro na mesa e me sentava, mas vi, com o canto
do olho, sua postura mudar. Ele estava se inclinando para longe de mim, sentado bem na ponta
da cadeira e virando a cara como seu eu tivesse cheiro ruim. Discretamente, cheirei meu cabelo.
Tinha cheiro de morangos, que era o perfume do meu xampu preferido. Parecia um cheiro
inocente o bastante. Deixei meu cabelo cair sobre meu ombro direito, criando uma cortina escura
entre nós, e tentei prestar atenção no professor.
Infelizmente a aula era sobre anatomia celular, algo que eu já tinha estudado. Fui fazendo
anotações mesmo assim, sempre olhando para baixo.
Não conseguia me conter e, de vez em quando, olhava para o garoto estranho ao meu lado,
através da cortina de cabelo. Durante a aula toda ele não relaxou de posição, sentado na ponta da
cadeira, o mais longe possível de mim. Pude ver que sua mão sobre a perna esquerda estava em
punho, os tendões se destacando sob a pele clara. Também não relaxou a mão sequer uma vez.
As mangas da sua camisa branca estavam puxadas até os cotovelos, e seu braço era
surpreendentemente musculoso. Ele não era tão frágil quanto parecia quando comparado com o
irmão.
A aula parecia se arrastar mais do que as outras. Será que era por que o dia estava
finalmente acabando ou por que esperava que seu pulso fosse relaxar? Ele nunca o fez. Ele estava
tão imóvel que parecia que não respirava. Qual era o problema dele? Será que isso era o
comportamento normal dele? Me questionei sobre o que tinha pensado sobre a amargura de
Jessica durante o almoço. Talvez ela não fosse tão rancorosa como eu pensava.
Não poderia ser comigo. Ele nunca tinha me visto na vida.
Espiei de novo e me arrependi. Ele estava me olhando novamente, seus olhos negros cheios
de repulsa. Enquanto me afastava dele, me espremendo na cadeira, a frase "se olhar matasse"
cruzou minha mente.
Naquele momento o alarme bateu alto, me assustando, e Edward Cullen já tinha se
levantado. Ele era muito mais alto do que tinha imaginado, e de costas para mim ele se foi
fluidamente. Antes que qualquer um dos outros estivesse de pé, ele já tinha saído pela porta.
Fiquei congelada no lugar, olhando para ele. Ele era muito mau. Não era justo. Comecei a
juntar minhas coisas devagar, tentando bloquear a raiva que me consumia, para não acabar
chorando. Por algum motivo, meu humor tinha ligação com meus canais lacrimais. Geralmente
chorava quando estava com raiva, uma mania humilhante.
- Você não é Isabella Swan? - perguntou uma voz masculina.
Olhei para ver um garoto bonitinho, com cara de bebê, o cabelo loiro claro cuidadosamente
moldado com gel, sorrindo para mim de um jeito amigável. Ele, com certeza, não achava que eu
cheirava mal.
- Bella. - corrigi com um sorriso.
- Sou Mike.
- Oi, Mike.
- Precisa de ajuda pra encontrar sua próxima aula?
- Na verdade, estou indo para o ginásio. Acho que consegui achá-lo.
- Essa é minha próxima aula também. - ele parecia extasiado, apesar de não ser muita
coincidência numa escola tão pequena.
Fomos para a aula juntos. Ele era um conversador - ele falava bastante, o que facilitava para
mim. Ele tinha morado na Califórnia até os dez anos, então ele me entendia com relação ao sol. E
ele estava na minha aula de inglês também. Tinha sido a pessoa mais legal que conhecera aquele
dia.
Mas enquanto entrávamos no ginásio ele perguntou - Então, você fincou o lápis no Edward
Cullen ou o quê? Nunca o vi agir assim.
Então não tinha sido só eu que notara. E, aparentemente, não era assim que ele se
comportava normalmente. Decidi bancar a desentendida.
- Era o garoto sentado do meu lado em biologia? - perguntei ingenuamente.
- Sim. - ele disse - Parecia que ele estava com dor ou algo parecido.
- Não sei. - respondi - Nunca conversei com ele.
- É um cara estranho. - Mike ficou por ali ao invés de ir para o vestiário. - Se eu tivesse tido
a sorte de sentar do seu lado, teria conversado com você.
Sorri para ele antes de ir para o vestiário das meninas. Ele era legal e claramente gostava de
mim, mas isso não foi o bastante para diminuir minha irritação.
O professor de Educação Física, Treinador Clapp, me deu um uniforme mas não me fez
vesti-lo para a aula. Em Phoenix, só dois anos de EF eram obrigatórios, aqui, era obrigatório
durante todos os anos. Forks literalmente era o meu inferno na Terra.
Assisti a quatro jogos de vôlei ao mesmo tempo. Lembrando quantas vezes tinha machucado
a mim mesma - e os outros - jogando vôlei, me senti nauseada.
O sinal tocou finalmente. Fui lentamente até a secretaria para entregar minha papelada. A
chuva tinha parado, mas o vento estava mais forte e mais frio. Me enrolei mais nas roupas.
Quando entrei na quente secretaria, quase me virei e saí de novo.
Edward Cullen estava parado à mesa logo na minha frente. Novamente reconheci aquele
cabelo cor de bronze e desarrumado. Ele pareceu não perceber a minha entrada. Me encostei na
parede, esperando a recepcionista poder me atender.
Ele estava conversando com ela numa voz baixa e atraente. Logo peguei o motivo da
conversa: ele queria trocar o período da aula de biologia para outro horário, qualquer outro.
Não podia acreditar que era por minha causa. Tinha que ser outra coisa, algo que
acontecera antes de eu entrar na sala. A expressão em seu rosto tinha que ser por outro motivo.
Era impossível que esse estranho tivesse me detestado tanto assim, tão subitamente.
A porta abriu novamente, e o vento frio entrou de repente, levantando os papéis sobre a
mesa, jogando meu cabelo sobre meu rosto. A garota que entrara simplesmente chegou na mesa,
colocou um bilhete na cesta de arame e saiu novamente. Mas Edward Cullen ficou rígido e se virou
lentamente para me olhar - o rosto dele era absurdamente lindo - com olhos fulminantes e cheios
de ódio. Por um instante senti puro medo, levantando os pêlos dos meus braços. O olhar só durou
um segundo, mas me congelou mais do que o vento enregelante. Ele se virou novamente para a
recepcionista.
- Deixa para lá, então. - ele disse apressadamente com uma voz aveludada. - Vejo que é
impossível. Muito obrigado pela ajuda. - se virou sem olhar para mim de novo e saiu pela porta.
Fui calmamente até a mesa, meu rosto branco ao invés de vermelho, e entreguei o papel
assinado.
- Como foi seu primeiro dia, querida? - a recepcionista perguntou, maternalmente.
- Bem. - menti com a voz fraca. Ela não pareceu convencida.
Quando cheguei na caminhonete, era praticamente o último carro no estacionamento. Ela era
como um refúgio, a coisa mais perto de um lar que eu tinha nesse buraco verde e úmido. Sentei lá
dentro por um tempo, simplesmente olhando pelo vidro. Mas logo estava frio o bastante para
precisar do aquecedor, então virei a chave e o motor ganhou vida. Peguei meu caminho de volta
para a casa do Charlie, lutando para não chorar durante todo o caminho.
2. LIVRO ABERTO
O outro dia foi melhor...e pior.
Foi melhor porque não estava chovendo ainda,apesar de as nuvens estarem densas e
opacas. Foi mais fácil porque eu já sabia o que esperar do meu dia. Mike veio se sentar ao meu
lado em Inglês, e me acompanhou até a minha próxima aula, com Eric do clube de xadrez
encarando ele o tempo inteiro; era uma reclamação. As pessoas não ficaram me olhando tanto
quanto ontem. Eu sentei com um grande grupo que incluia Mike, Eric, Jessica e muitas outras
daquelas pessoas cujos nomes e rostos eu lembrava agora. Eu comecei a sentir que agora eu
andava na água, ao invés de afundar nela.
Foi pior porque eu estava cansada; eu ainda não conseguia dormir com o vento ecoando ao
redor da casa. Foi pior porque o Sr. Varner me chamou em Trigonometria quando a minha mão
não estava levantada e eu dei a resposta errada. Foi infeliz porque eu tive que jogar Vôlei, e na
única vez que eu não fugi da bola eu atingí a minha parceira de time na cabeça com ela. E foi pior
porque Edward Cullen não estava na escola durante a manhã inteira eu estive temendo o almoço,
sentindo seus olhares bizarros. Parte de mim queria confrontá-lo e ordenar que ele disesse qual
era o problema. Enquanto eu estava deitada acordada na cama, eu até imaginei o que eu diria.
Mas eu me conhecia bem demais pra achar que eu teria a coragem de fazer isso. Eu fiz o leão
covarde do Mágico de Oz parecer o Exterminador.
Mas quando eu entrei na cafeteria com Jéssica tentando evitar que os meus olhos
vasculhassem o lugar procurando por ele, e falhando miserávelmente eu ví que seus quatro irmão
estavam sentados juntos na mesma mesa, e ele não estava com eles.
Mike nos recebeu e nos guiou até a mesa dele. Jessica parecia alegre pela atenção, e as
amigas dela rapidamente se juntaram á nós. Enquanto eu tentava ouvir a conversa fluente deles,
eu estava terrivelmente desconfortável, esperando nervosamente pelo momento que ele chegaria.
Eu esperava que ele simplesmente me ignorasse quando chegasse, e provasse que as minhas
suspeitas eram falsas.
Ele não veio, e com o passar do tempo eu fiquei mais e mais nervosa.
Eu fui para Biologia mais confiante quando, ao final do almoço, ele ainda não havia
aparecido. Mike, que estava agindo como um cão de guarda, andou fielmente ao meu lado até a
sala de aula. Eu segurei o fôlego na porta, mas Edward Cullen também não estava lá. Eu exalei e
fui me sentar. Mike me seguiu, falando de uma viagem á praia que estava pra acontecer. Ele se
curvou na minha mesa até que o sinal tocou. Aí ele sorriu tristemente pra mim e foi sentar perto
de uma garota de aparelho e com um penteado ruim. Parecia que eu teria que fazer alguma coisa
em relação á Mike, e não seria fácil. Em uma cidade como essa, em que todo mundo vive em cima
de todo mundo, diplomacia é essencial. Eu nunca tive muito tato; eu nunca tive muita prática em
lidar com garotos amigáveis demais.
Eu estava aliviada que teria a mesa para mim mesma, que Edward estava ausente. Eu disse
isso para mim mesma repetidamente. Era rudiculo, e egoísta, pensar que eu podia afetar alguém
desse jeito. Era impossível. E ainda assim eu não conseguia parar de pensar que fosse verdade.
Quando o dia na escola finalmente acabou, e as minhas bochechas não estavam mais
coradas por causa do incidente no Vôlei, eu rapidamente coloquei as minhas calças jeans e o meu
suéter azul marinho. Eu saí correndo do vestiário feminino, contente de ver que
momentaneamente eu havia conseguido afastar o meu amigo cão de guarda.
Eu caminhei rapidamente até o estacionamento. Agora estava cheio de alunos. Eu entrei na
minha caminhonete e procurei na minha mochila pra ver se eu tinha tudo que eu precisava.
Noite passada eu descobrí que Charlie não sabia cozinhar nada além de ovos fritos e bacon.
Então eu pedí pra tomar conta dos detalhes da cozinha enquanto durasse a minha estada. Ele
ficou feliz o suficiente pra me passar a chave da sala do banquete. Então eu estava com a minha
lista de compras e o dinheiro do jarro no armário onde havia DINHEIRO DA COMIDA escrito, e
estava á caminho da Thriftway (axu q é o nome de uma loja).
Eu dei ingnição no motor barulhento, ignorando as cabeças que viraram em minha direção e
dei ré cuidadosamente e entrei na fila de carros que esperava para sair do estacionamento.
Enquanto eu esperava, tentando fingir que o barulho ensurdecedor estava vindo do carro de outra
pessoa, eu ví os dois irmãos Cullen e os dois gêmeos Hale entrando no carro deles. Era um Volvo
novinho em folha. É claro.
Eu nunca havia reparado nas roupas deles antes eu estava hipnotizada demais com os rostos
deles. Agora que eu havia olhado, era óbvio que todos eles se vestiam excepcionalmente bem;
simples, mas com roupas que claramente eram assinadas por estilistas famosos. Com os seus
rostos notáveis e com o estilo com que se comportavam, eles podiam usar trapos e ainda ficarem
bem. Parecia demais pra eles ter tanto beleza quanto dinheiro. Até onde eu podia dizer, era assim
que a vida funcionava na maioria da vezes. No caso deles, isso não parecia ter comprado
aceitação por aqui.
Não, eu não acreditava inteiramente nisso. A isolação deve ser desejo deles; eu não podia
imaginar nenhuma porta que não estivesse aberta á esse grau de beleza.
Eles olharam para a minha caminhonete barulhenta quando eu passei por eles, igual a todo
mundo. Eu mantive os meus olhos virados para a frente e fiquei aliviada quando finalmente estava
livre da escola.
A Thriftway não era longe da escola, só algumas ruas ao sul, fora da estrada. Era bom estar
dentro do supermercado; parecia normal. Eu fazia as compras em casa, e me moldei aos padrões
da tarefa familiar alegremente.
A loja era grande o suficiente pra me fazer não ouvir a chuva no telhado e esquecer de onde
eu estava.
Quando eu cheguei em casa, eu descarregeui as compras e enfiei elas em qualquer espaço
vazio que consegui achar. Eu esperava que Charlie não se incomodasse. Eu embrulhei batatas em
papel alumínio e coloquei no forno pra assar, cobri bifes com molho marinado e equilibrei-os em
cima de uma caixa de ovos, em uma frigideira.
Quando eu terminei de fazer isso, eu subí com a minha mochila. Antes de começar a fazer o
meu dever de casa, eu me troquei colocando uma calça seca e prendendo o meu cabelo em um
rabo de cavalo, e chequei meus e-mails pela primeira vez. Eu tinha três mensagens.
"Bella", minha mãe escreveu...
ME ESCREVA ASSIM QUE CHEGAR. ME DIGA COMO FOI O SEU VÔO. ESTÁ CHOVENDO? JÁ
SINTO A SUA FALTA. JÁ ESTOU QUASE TERMINANDO DE FAZER AS MALAS PARA A FLÓRIDA,
MAS NÃO CONSIGO ACHAR A MINHA BLUSA ROSA.
VOCÊ SABE ONDE EU DEIXEI? PHIL DIZ OI. MAMÃE.
Eu suspirei e fui para a próxima mensagem. Foi mandada oito horas depois da primeira.
"Bella",ela escreveu...
PORQUÊ VOCÊ AINDA NÃO ME RESPONDEU? O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO?
MAMÃE.
A última foi de hoje de manhã.
ISABELLA, SE EU NÃO TIVER NOTÍCIAS DE VOCÊ ATÉ 5:30 DE TARDE DE HOJE, EU VOU
LIGAR PARA CHARLIE.
Eu olhei para o rélógio. Eu ainda tinha uma hora, mas minha mãe era bem conhecida por
agir precipitadamente.
MÃE
SE ACALME. EU ESTOU ESCREVENDO AGORA. NÃO FAÇA NADA IMPRUDENTE.
BELLA.
Eu enviei essa e comecei de novo.
MÃE,
TUDO ESTÁ ÓTIMO. É CLARO QUE ESTÁ CHOVENDO. EU ESTAVA ESPERANDO POR ALGO
SOBRE O QUE ESCREVER. A ESCOLA NÃO É RUIM, SÓ UM POUCO REPETITIVA. EU CONHECÍ UM
PESSOAL LEGAL QUE SENTA COMIGO NO ALMOÇO.
SUA BLUSA ESTÁ NA LAVANDERIA- VOCÊ DEVIA TER IDO BUSCAR ELA SEXTA FEIRA.
CHARLIE COMPROU UMA CAMINHONETE, DÁ PRA ACREDITAR? EU ADOREI. É MEIO VELHA,
MAS TEM PORTE, O QUE É BOM, SABE, PRA MIM.
TAMBÉM SINTO SUA FALTA. EU VOU ESCREVER DE NOVO EM BREVE, MAS NÃO VOU FICAR
CHECANDO OS MEUS E-MAILS A CADA CINCO MINUTOS. RELAXE, RESPIRE. EU TE AMO.
BELLA.
Eu decidí ler O MORRO DOS VENTOS UIVANTES-o romance que estamos estudando
atualmente em Inglês- de qualquer forma era só pela diversão, e era isso que eu estava fazendo
quando Charlie chegou em casa. Eu perdí a noção do tempo, e corrí para tirar as batatas do forno
e colocar o bife pra grelhar.
- Bella? , meu pai chamou quando me ouviu descer as escadas.
Quem mais? Eu pensei comigo mesma.
- Oi, pai, bem vindo ao lar.
- Obrigado. - Ele tirou o colete da arma e tirou as botas enquanto eu entrava na cozinha. Até
onde eu sabia, meu pai nunca usou sua arma no trabalho. Mas ele a mantinha pronta. Quando eu
vinha aqui quando criança ele sempre tirava as balas assim que entrava em casa. Acho que agora
me considerava velha o suficiente pra não atirar em mim mesma por acidente, e não deprimida o
suficiente para não atirar em mim mesma de propósito.
- O que tem para o jantar? - ele perguntou cautelosamente. Minha mãe era uma cozinheira
imaginativa e os experimentos dela não eram sempre comestíveis. Eu estava surpresa, e triste,
que ele parecia se lembrar daquela época.
- Bife e batatas - eu disse e ele pareceu aliviado.
Ele pareceu se sentir estranho de pé na cozinha sem fazer nada; ele foi pra a sala de estar
assistir TV enquanto eu trabalhava na cozinha. Ficávamos os dois mais confortáveis desse jeito. Eu
fiz uma salada enquanto os bifes grelhavam, e fiz a mesa.
Eu o chamei quando o jantar estava pronto, ele cheirou apreciadoramente enquanto entrava
na cozinha.
- O cheiro é bom, Bell.
- Obrigada.
Nós comemos em silêncio por alguns minutos. Não era desconfortável. Nenhum de nós
estava incomodado por estar quieto. Em alguns sentidos, nós servíamos para morar juntos.
- Então, você gostou da escola? Você fez amigos? - ele perguntou como que pra passar o
tempo.
- Bem, eu tenho algumas aulas com uma garota chamada Jéssica. Eu sento com as amigas
dela no almoço. E tem esse garoto, Mike, que é muito amigável. Todos parecem ser muito legais. -
Com uma excessão.
- Esse deve ser Mike Newton. Bom garoto. Boa família. O pai dele é dono da loja de
suplementos esportivos que fica fora da cidade. Ele faz um bom dinheiro por causa daqueles
mochileiros que vêm á cidade.
- Você conhece a família Cullen? - eu perguntei hesitante.
- A família do Dr.Cullen? Claro. O Dr. Cullen é um ótimo homem.
- Eles... as crianças são um pouco diferentes. Eles não parecem se adequar muito bem na
escola.
Charlie me surpreendeu parecendo um pouco irritado.
- As pessoas dessa cidade. - ele murmurou. - Dr.Cullen é um cirurgião brilhante que poderia
provavelmente trabalhar em qualquer hospital do mundo, ganhando dez vezes mais do que o
salário dele aqui. - ele continuou, falando mais alto - Temos sorte por tê-lo, sorte que a esposa
dele quis viver numa cidade pequena. Ele é um aditivo á comunidade e todos aqueles garotos são
bem comportados e educados. Eu tive as minhas dúvidas quando eles vieram pra cá, com todos
aqueles adolescentes adotados. Eu pensei que teríamos problemas com eles. Mas eles são todos
muito maduros, eu nunca tive nenhuma espécie de problema com nenhum deles. Isso é mais do
que eu posso dizer de algumas crianças cujas famílias viveram aqui por gerações. E eles ficam
juntos do jeito que uma família deve ficar, acampando ás vezes nos finais de semana... Só porque
eles são novos na cidade as pessoa têm que ficar falando.
Foi o discurso mais longo que eu já ví Charlie fazendo. Ele deve ser fortemente contra o que
quer que as pessoas estão dizendo.
Eu dei pra tras. - Eles pareceram bons o suficiente pra mim. Eu só reparei que eles ficam
muito sozinhos. Eles são todos muito atraentes. - eu adicionei isso tentando parecer
complementar.
- Você devia ver o doutor - Charlie disse rindo - Que bom que ele é feliz no casamento.
Muitas enfermeiras se esforçam em se concentrar em seus trabalhos quando ele está por perto.
Nós continuamos em silêncio até terminarmos de comer. Ele limpou a mesa enquanto eu
comecei a lavar os pratos. Ele voltou para a TV, e depois que eu terminei de lavar os pratos á
mão, nada de lavadora de pratos, eu subí sem vontade pra fazer o meu dever de Matemática.
A noite finalmente estava quieta. Eu caí no sono rapidamente, exausta.
O resto da semana foi sem novidades. Eu me acostumei á rotina das aulas. Na sexta eu já
era capaz de reconhecer, se não nomear, quase todos os alunos da escola. Na ginástica, os
garotos do meu time aprenderam a não me passar a bola e a entrar rapidamente na minha frente
se o outro time tentasse se aproveitar da minha fraqueza. Eu ficava alegremente fora do caminho
deles.
Edward Cullen não voltou á escola.
Todos os dias eu observava ansiosamente quando os outros Cullen entravam na cafeteria
sem ele. Então eu podia relaxar e aproveitar a conversa da hora do almoço. Na maioria das vezes
a coversa era sobre uma viagem ao Parque Oceanográfico de La Push dentro de duas semanas
que Mike estava planejando. Eu fiu convidada e tive que aceitar, mais por educação que por
vontade. Praias têm que ser quentes e secas.
Na sexta eu já me sentia confortável entrando na sala de Biologia, sem me preocupar que
Edward pudesse estar lá.
Até onde eu sabia, ele havia desistido da escola. Eu tentei não pensar nele, mas eu não
podia suprimir totalmente a preocupação de que eu pudesse ser a responsável por sua ausência,
por mais ridiculo que parecesse.
Meu primeiro fim de semana em Forks passou sem incidentes. Charlie, desacostumado á
ficar na casa normalmente vazia, trabalhou a maior parte do fim de semana. Eu limpei a casa,
adiantei o dever de casa e escreví mais e-mails com bobagens alegres para a minha mãe. Eu dirigí
até a biblioteca pública no sábado, mas o estoque era tão pobre que eu nem me encomodei em
fazer um cartão; eu teria que arranjar uma data pra visitar Olympia ou Seattle em breve e achar
uma boa loja de livros.
Eu pensei á toa quantas milhas a caminhonete faria com um litro de gasolina...e tremí com o
pensamento.
A chuva permaneceu leve durante o fim de semana, quieta, então eu pude dormir bem.
As pessoas me cumprimenteram no estacionamento da escola na segunda de manhã. Eu
não sabia todos os nomes deles, mas eu acenei de volta e sorrí pra todos. Esta manhã estava mais
frio, mas felizmente não chovendo. Em Inglês, Mike sentou no assento de costume ao meu lado.
Tivemos uma arguição sobre O Morro dos Ventos Uivantes, eu estava adiantada, muito fácil.
Tudo por tudo, eu estava me sentindo muito mais confortável do que eu imaginei que
sentiria a esse ponto. Mais confortável do que eu jamais esperei me sentir aqui.
Quando saímos da sala, o ar estava cheio de pedaços brancos rodando.
Eu podia ouvir as pessoas gritando excitadamente umas para as outras. O vento mordeu
minhas bochechas, meu nariz.
- Uau - Mike disse - Está nevando.
Eu olhei para os pedacinhos de algodão que estavam se alojando na calçada e dançando
errôneamente enquanto passavam pelo meu rosto.
- Eca. - Neve. Lá se vai meu bom dia.
Ele pareceu surpreso. - Você não gosta de neve?
- Não, significa que está frio demais para chover. - Obvio. - Além do mais, eu pensei que
elas deviam descer como flocos sabe, unicos e essa coisa toda. Esses parecem contonetes usados.
- Você nunca viu a neve cair? - ele perguntou sem acreditar.
- Claro que já - eu pausei - na TV.
Mike riu, e então uma grande, molhada bola de neve derretendo atingiu a parte de trás da
sua cabeça. Eu tinha minhas suspeitas sobre Eric, que estava andando pra longe, de costas pra
nós na direção errada para a sua próxima aula. Aparentemente, Mike era da mesma opinião. Ele
se curvou e começou a juntou uma pilha de neve branca.
- Eu te vejo no almoço tá? - Eu continuei caminhando enquanto falava. - Quando as pessoas
começam a atirar coisas molhadas, eu vou pra dentro.
Ele só acenou com a cabeça, seus olhos na figura se distanciando de Eric.
Durante a manhã, todos falavam excitadamente sobre a neve; aparentemente era a primeira
nevasca do ano. Eu mantive minha boca fechada. Claro, era mais seca do que a chuva, até que
derretia nas suas meias.
Eu caminhei em alerta para a cafeteria com Jéssica. As bolas de neve voavam por todo
lugar. Eu mantive uma pasta na minha mão, pronta para usá-la como escudo se necessário.
Jessica achou hilário, mas algo na minha expressão não permitiu que ela mesma me atingisse com
uma bola de neve.
Mike nos alcansou quando passamos pela porta, rindo, com gelo derretendo pelos seus
cabelos arrepiados. Ele e Jéssica converssavam animadamente sobre a guerra de neve quando
entramos na fila para comprar a comida. Eu olhei para a mesa no canto por puro hábito. E
congelei onde eu estava. Haviam cinco pessoas na fila.
Jéssica me puxou pelo braço.
- Alô? Bella? O que você quer?
Eu olhei para baixo; minhas orelhas estavam quentes. Eu não tinha motivos para me sentir
constrangida, eu lembrei a mim mesma. Eu não fiz nada errado.
- Qual o problema com Bella? - Mike perguntou a Jéssica.
- Nada - eu respondí. - Hoje eu só quero um refrigerante. - Eu me aproximei do fim da fila.
- Você não está com fome? - Jéssica perguntou.
- Na verdade, eu estou me sentindo um pouco enjoada. - eu falei, meus olhos ainda no
chão.
Eu esperei que eles pegassem suas comidas, e então segui eles até a mesa, meus olhos nos
meus pés.
Eu bebi o meu refrigerante devagar, meu estômago revirando. Mike perguntou duas vezes,
com preocupação desnecesséria, como eu estava me sentindo. Eu disse a ele que não era nada,
mas estava imaginando se eu deveria usar isso como desculpa para fugir para a enfermaria e ficar
lá durante a próxima hora.
Ridículo. Eu não devia precisar fugir.
Eu decidí me permitir dar uma olhada para a mesa da família Cullen.
Se ele estivesse me encarando, eu iria faltar Biologia como a covarde que eu era.
Eu mantive minha cabeça abaixada e olhei pra cima por baixo dos meus cílios. Nenhum
deles estava olhando na minha direção. Eu levantei a cabeça um pouco.
Eles estavam rindo. Edward, Jasper e Emmett todos eles estavam inteiramente cobertos com
neve derretendo. Alice e Rosalie se afastaram enquando Emmett balançava o cabelo pingando
dele na direção delas. Eles